Depoimento sobre a historia e a ação das comunidades vazanteiras e quilombolas do Norte de Minas em defesa de seus territórios. Como noticiamos ontem, domingo, dia 24, as comunidades vazanteiras de Pau Preto, Pau de Légua e o Quilombo da Lapinha retomaram a sede da Fazenda Catelda, que estava sendo negociada para implantação do Parque Estadual Verde Grande. Propuseram a criação de uma RDS em uma parcela da área e deram início imediato à implantação da RDS do Pau Preto, começando a planta na terra retomada.
Em termos de solidariedade e de luta, é importantíssimo ressaltar que a reportagem foi realizada pelo Observatório das Favelas, do Rio de Janeiro, que está acompanhando e apoiando a ação de retomada (e que fique claro que estou usando este termos consciente e propositadamente). Por outro lado, temos que cobrar do Governo de Minas Gerais, do IEF, SPU e INCRA MG agilidade no atendimento das propostas das comunidades. (Tania Pacheco, com informações da CPT e CAA do Norte de Minas).
Carta de apoio aos Vazanteiros em Movimento
Comunidade de Pau Preto, margem direita do Rio São Francisco, município de Matias Cardoso – MG. Porto final da nossa viagem de barca “São Francisco rio a baixo”, 27 de Julho de 2011.
Nós do Grupo de Estudos e Pesquisa do São Francisco (Grupo de Pesquisa Opará) composto por professores e estudantes das instituições: Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), durante 10 dias de viagem descendo o São Francisco conhecemos comunidades das margens do rio e as suas gentes como lavradores, pescadores, quilombolas e vazanteiros. No percurso se juntaram a nós o Cícero Ferreira de Lima e a Zuleide Francisca dos Santos da Associação de Vazanteiros de Itacarambi. Neste percurso ouvimos relatos do viver diverso junto ao São Francisco; registramos a memória de uma ocupação intensa e antiga, os saberes e práticas culturais transmitidas entre gerações. Os relatos trazem a resistência cotidiana e também o sofrimento, os sentimentos de desqualificação no processo da modernização violenta e o descaso em relação às políticas públicas, na medida em que ações do Estado negligenciam ou mesmo reforçam conflitos pelo uso do rio, dos recursos presentes nas suas águas e margens.
Ao final da viagem na comunidade de Pau Preto, município de Matias Cardoso, presenciamos o ato de autodemarcação do território vazanteiro de Pau Preto, realizado pelos moradores e por pessoas e grupos que integram a iniciativa “Vazanteiros em movimento”.
Sensibilizados pela iniciativa nos decidimos manifestar de forma pública nossa solidariedade e nosso apoio à luta da comunidade de Pau Preto, que impactada pela criação do Parque Estadual Verde Grande se mobiliza frente ao Estado buscando o reconhecimento como comunidade tradicional e a demarcação do seu território. Almejamos que esta iniciativa seja a primeira entre muitas na luta pela vida e por direitos das comunidades do São Francisco.
Assim, firmamos o compromisso,
Carlos Rodrigues Brandão
Heinz Dieter Heidemann
Samuel do Carmo Lima
Andréa Maria Narciso Rocha de Paula
Maristela Correa Borges
Elisa Cotta de Araújo
Joycelaine Aparecida de Oliveira
Ângela Fagna Gomes de Souza
Rodrigo Herles dos Santos
Fernanda Amaro
Thais Dias Luz Borges Santos
Luciana Maria Monteiro Ribeiro