Agricultores do Semiárido reafirmam compromisso com sementes crioulas

Por Fernanda Cruz – Asacom

Passado o II Encontro Nacional de Sementes, realizado na semana passada (6 a 8 de julho), em Maceió, capital de Alagoas, Mardônio Alves, coordenador executivo da ASA e um dos organizadores do evento, avalia o momento como decisivo para o Semiárido, principalmente no que se refere ao fortalecimento da agricultura familiar e das sementes crioulas, em contraposição ao agronegócio e às sementes transgênicas. Confira a entrevista.

Asacom – Como você avalia o II Encontro Nacional de Sementes?

Mardônio – Esse encontro trouxe para o Semiárido a discussão principalmente dos transgênicos, que hoje ameaça muito a agricultura familiar. Por outro lado, ele trouxe a perspectiva da ASA discutir enquanto rede essa questão [das sementes crioulas] e não apenas regionalmente. Além disso, cada estado pode assumir seus compromissos, fazendo com que o encontro não fique só no debate.

A participação dos agricultores também foi muito importante, por terem colocado sua posição em relação aos transgênicos e também por terem expressado a diversidade das suas experiências. Foi uma riqueza muito grande!

A questão das políticas públicas também foi um destaque. Ficou bem expressiva a importância das sementes crioulas e das pesquisas com esse tipo de semente, para que se mostre a viabilidade e a qualidade delas. A experiência vivenciada na Paraíba, por exemplo, é algo que deve ser expandido para outros estados. Aqui em Alagoas nos reunimos já como reflexo do encontro, para rediscutir o programa estadual, ver como podemos trabalhar com bancos de sementes e agua para produção, numa dinâmica casada. Em nível de Semiárido isso também repercute, pois a Paraíba já quer também fazer uma discussão localmente para ver como ampliar e rediscutir a lei deles [lei de sementes estadual] que já existia. Eu acho que o encontro pautou o tema e sai com o compromisso, com um sentimento de que cada estado assuma uma bandeira, assuma uma tarefa para que tenhamos um Semiárido livre de transgênicos.

Asacom – Na prática, que avanços podem ser apontados a partir desse debate?

Mardônio – A ASA tem um caminho aberto com o MDS [Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome] a partir do Programa Uma Terra e Duas Águas. Estamos fechando um plano de trabalho onde teremos consolidadas casas e bancos de sementes, viveiros de mudas, como reflexo também da visibilidade que o encontro trouxe para questão. Por outro lado, temos o debate com o MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário], com a própria Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], para que trabalhemos a questão da semente para aqueles agricultores e agricultoras que estão em situação de extrema pobreza, pensando que essas sementes para produzir alimentos, sejam produzidas pela agricultura familiar. A Conab se coloca disposta e aberta para isso. Coloca-se inclusive na condição de financiadora no que diz respeito à compra das sementes crioulas, de forma que possam comprar dos bancos de sementes e doar para aquelas comunidades que ainda não têm essa dinâmica, na perspectiva de ampliação dos bancos de sementes.

Asacom – Qual a importância de estabelecer parcerias com outras redes, movimentos e organizações acerca do tema ‘sementes’?

Mardônio – É extremamente estratégica essa relação de ampliar as parcerias. A ASA por si só já é uma grande rede, mas existem outras redes, para além da limitação do Semiárido, que também vêm discutindo essa temática. A gente acaba conhecendo experiências próprias de outras regiões, a exemplo do Paraná, que sofreu com a enxurrada de sementes transgênicas ameaçando o plantio das sementes crioulas nesses locais. A relação da ASA com a ANA [Articulação Nacional de Agroecologia] e com a Terra de Direitos e uma série de outras organizações locais, comunitárias, e até de outros países, representa uma grande rede, que se articula para um objetivo comum, como o desenvolvimento dos pequenos agricultores.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=58305

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