Era aproximadamente 11h30 da desta segunda-feira (11/07), quando chegaram a Mauriti, cidade localizada na Região do Cariri, cerca de cinquenta policiais militares de Juazeiro do Norte. Eles apresentaram às 80 famílias acampadas na fazenda Lagoa Cercada, uma ordem de despejo.
Iniciou-se a retirada das famílias à força. O caminhão para a retirada das famílias foi emprestado coincidentemente pela Prefeitura Municipal de Mauriti, a frente o Prefeito Isaac Gomes da Silva Júnior (PT).
Sem tempo para pegar seus pertences, os trabalhadores e trabalhadoras logo entram em desespero ao ouvir o alerta: “estão tocando fogo nos barracos”. Começa o corre-corre. Os policiais começam a derrubar os barracos e atear fogo nos abrigos com todos os pertences das famílias dentro. Segundo informações dos acampados, quatro pessoas ficaram feridas, entre homens mulheres e crianças. Três acampados foram presos sob acusação de desacato, por tentarem impedir com que a polícia queimasse o que lhes restou, da longa luta por um pedaço de terra.
Por telefone, um acampado que não quer revelar o nome com medo de represálias, fala que os policiais ameaçaram com armas na cabeça os que tentavam salvar suas barracas. Até o momento os três trabalhadores que foram presos, continuam “sem ter o direito de receber visita dos familiares”.
De acordo com informações da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Ceará, “essa é a segunda reintegração de posse em acampamentos nosso”. Segundo Antonia Ivoneide, membro da coordenação estadual do MST, “há um compromisso do Governo do Estado em negociar. Essa ação que ocorreu é um ato inconstitucional. Onde está o respeito a vida das pessoas?” questiona.
Para o Ouvidor Agrário do Estado, Vasconcelos Araújo, “esse tipo de ação não era esperada. Nem o Secretário de Desenvolvimento Agrário esperava isso”. Araújo confirma o compromisso do Governo do Estado de que ações desse tipo não são recomendadas. “Já estamos tomando a providência”, completa.
A tensão continua, o movimento espera uma imediata intervenção do Estado, para desapropriar a área e libertar os acampados presos. Até agora, não houve avanços em relação aos acampados.
Saiba mais
Hoje no Ceará vivem em acampamentos cerca de três mil famílias em 26 acampamentos espalhados em todas as regiões do Estado. Para o movimento, há uma represália do setor conservador do poder judiciário “que persegue e criminaliza a luta no campo, impedido o acesso à terra como manda a Constituição” afirma Ivoneide.
Em Fortaleza cerca de 150 famílias ocuparam o prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), na Avenida José Bastos, para pressionar a assinatura do convênio de assistência técnica para os assentamentos de reforma agrária. O Incra já havia se comprometido que, no dia 08 de julho, o convênio estaria assinado, mas conforme informações do MST até agora nada foi feito.
Do Cariri,
Marcelo Matos (acadêmico Comunicação Social da UFC – I turma de Jornalismo da Terra e membro da Coordenação do MST no Ceará)
http://www.vermelho.org.br/ce/noticia.php?id_noticia=158577&id_secao=61