Turismo comunitário garante posse da terra e gera renda na Prainha do Canto Verde

Localizada no litoral leste do Ceará, a 120 km de Fortaleza, no município de Beberibe, a Prainha do Canto Verde é experiência pioneira em turismo comunitário. Travando uma luta pela preservação do território desde 1978, a comunidade encontrou nesse segmento do turismo um poderoso aliado na resistência contra a especulação imobiliária e na geração de renda local.

De acordo com Lindomar Lima, um dos coordenadores da Rede Tucum (articulação que busca fortalecer o turismo comunitário em doze comunidades do litoral cearense), a iniciativa de Canto Verde teve início em 1998 para garantir o direito a terra pelos pescadores, que, desde o final do século XIX haviam se estabelecido ali.

 

“Quando a comunidade começou a ter essa resistência contra a especulação imobiliária, percebeu que tinha que se desenvolver, mas de uma forma diferente do desenvolvimento no restante do litoral cearense, que não agrega a população local”, explicou.

Na época, a atividade preponderante era a pesca, mas, devido às belezas naturais do local, já se percebia a vocação para o turismo. Os moradores, então, se organizaram para planejar o turismo comunitário. Criaram grupos de trabalhos, articulados ao Conselho de Turismo Comunitário, uma cooperativa informal constituída por um grupo gestor, um coordenador de turismo e os prestadores de serviço – pousadas, restaurantes, guias, passeístas.

Já havia alguns restaurantes para atender aos visitantes e também moradores alugavam quartos de suas próprias casas. Para desenvolver os estabelecimentos, a Fundação dos Amigos da Prainha do Canto Verde, com sede na Suíça, criou um fundo para apoiar a comunidade. Ao passo que os empreendimentos foram dando certo, os moradores puderam devolver os recursos. Lindomar cita ainda a assessoria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com cursos de capacitação para a comunidade.

O coordenador ressalta que o turismo comunitário é uma atividade que se liga à Economia Solidária por ter uma atuação local, em que a renda é distribuída na própria comunidade, gerando uma cadeia de produção entre as famílias.

“É a própria comunidade quem promove a atividade e não vai pra mão de pessoas de fora. Todos os atores sociais são de Canto Verde, fazendo a riqueza circular no local mesmo”, disse.

Para cuidar da culinária da comunidade, com pratos típicos, onze mulheres da Cooperativa de Turismo e artesanato (Coopencantur) e da associação de moradores da comunidade foram capacitadas pelo Sebrae. O local conta com pequenas pousadas, como a Sol e Mar e a Refúgio da Paz, além da Casa Cangulo, gerida pela Associação dos Moradores.

Além de conhecer o modo de vida tradicional de Canto Verde e sua luta vitoriosa pela terra, educação e geração de renda, o visitante vai entender porque esse é um lugar tão bom de viver. Nas trilhas ecológicas, pode ter contato com a natureza, o ecossistema, a fauna e flora, assim como com a história e as tradições dos moradores.

No mar, há os passeios de jangada e catamarã. Os moradores também oferecem trilhas para conhecer as comunidades vizinhas, Córrego do Sal e Campestre da Penha.

“Eu gostaria que as pessoas visitassem a Prainha e as outras comunidades que desenvolvem o turismo comunitário para olhar o litoral com outros olhos, diferente dos olhos da especulação”, finaliza Lindomar.

Em 2009, depois de muita peleja, o local foi reconhecido como uma Reserva Extrativista, onde vivem 200 famílias com base econômica na pesca artesanal da lagosta e o turismo comunitário.

Acordos

A comunidade tem um código de conduta que estabelece regras básicas para o turismo comunitário. São questões simples, como respeitar os moradores, não oferecer-lhes dinheiro e ter cuidado com as crianças, que gostam de interagir com os visitantes; pedir permissão antes de fazer fotografias das pessoas e manter a praia limpa. Para preservar o meio ambiente, as trilhas ecológicas levam no máximo seis pessoas por vez e, respeitando o modo de vida local, o código estabelece que não pode haver som alto após as 21 horas.

 

http://www.adital.com.br/hotsite_economia/noticia.asp?lang=PT&cod=56325

 

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