por Laura Nader*
Introdução
Os antropólogos subestimaram sistematicamente o papel das ideologias jurídicas na estruturação ou desestruturação da cultura. O exemplo que escolhi para dissecar neste trabalho é a utilização do modelo legal de harmonia como uma técnica de pacificação. A seguir, delinearei minha compreensão da ideologia da harmonia e dos funcionamentos coercivos desta em três ambientes: em primeiro lugar, entre os zapotecas e outros povos colonizados, como exemplo do controle cultural ou da pacificação no primeiro contato; em segundo lugar, nos Estados Unidos, durante um período de vinte anos de mudanças crescentes, de 1975 até a atualidade, a criação e utilização da Alternative Dispute Resolution (ADR) [“Resolução Alternativa de Disputa”], ou estilos conciliatórios, como parte de uma política de pacificação em resposta aos movimentos da década de 60, que lutavam pelos direitos em geral; e, finalmente, o cenário internacional, para onde migraram as mesmas técnicas da ADR para lidar com as disputas internacionais relacionadas a rios.
Os antropólogos examinaram o conflito em muitos ambientes e efetivamente desenvolveram teorias sobre o conflito. No entanto, não chegamos a dispor de teorias completas sobre os significados da harmonia. As etnografias tomaram a harmonia como fato consumado ao buscar explicar a desarmonia. Recentemente, observadores da área da antropologia legal levantaram questões sobre o grau em que, enquanto observadores científicos, fomos capturados pelos sistemas de pensamento de nossas próprias culturas, deixando, talvez, de reconhecer que os estilos de disputa são um componente das ideologias políticas, sendo, freqüentemente, resultado. de imposição ou difusão. Devido à cilada dos modelos preferidos, culturalmente construídos, tem sido difícil para leigos e cientistas sociais examinar com isenção os modelos de harmonia. Realmente, como é cada vez mais exemplificado, a harmonia e a controvérsia fazem parte das ideologias num mesmo continuum e não são, necessariamente, benéficas ou adversas. (mais…)
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