“Outro setor em que o BNDES atua com forte apoio e participação – inclusive como sócio de algumas empresas – é o da produção de papel e celulose e outras atividades relacionadas à produção de madeira em larga escala. Um setor que coleciona conflitos com comunidades tradicionais, povos indígenas e outros segmentos, sem que isso motive um diálogo mais próximo entre o banco e os atingidos pelos empreendimentos.
No Maranhão, Mayron Régis, militante do Fórum Carajás, explica que desde a década de 1980 existe uma relação “intrínseca” do BNDES com o eucalipto na região em que os Estados de MA, PI, TO e PA fazem fronteira. No Baixo Parnaíba, região em que se localizam os municípios maranhenses de Santa Quitéria, Urbano Santos e Anapurus, a disputa pelas terras entre o eucalipto e a soja tem vitimado de maneira crescente as comunidades tradicionais. Os desmatamentos atingem áreas de extrativismo (do pequi, bacuri, babaçu e outros), e os conflitos agrários se multiplicam. O potencial da região para produção de madeira despertou a cobiça de grandes empresas de setores variados, da celulose à siderurgia, passando pelo carvão e móveis. Vale, Gerdau, Margusa, Suzano e outros grupos de destaque da economia brasileira promoveram então uma corrida às terras da região, marcada por complexas engenhariasde compra, repasses, arrendamento, terceirizações e outros mecanismos de uso da terra. Tal processo trouxe marcas de violência e ilegalidades. As denúncias de grilagem dasterras são muitas, e recentemente envolvem a Suzano Papel e Celulose26. Se os métodos são duvidosos, os objetivos não são modestos. A empresa pretende chegar em 2015 à produção de 7,2 milhões de toneladas anuais de papel e celulose. Do total, 1,3 milhões viriam de uma nova unidade no Sul do Maranhão, e mais 1,3 milhão de uma nova fábrica no Piauí – as duas novas linhas estariam entre as maiores do mundo.
Regis estima que, apenas em Santa Quitéria, 70 mil hectares seriam destinados ao eucalipto. Ele afirma que a sociedade civil local não chegou a procurar o BNDES a fim de explicar os impactos e riscos da investida da Suzano na região por enxergar o banco como “avesso ao diálogo”, algo constatado nos mais de 30 anos de investimentos do BNDES em projetos na região. Por outro lado, diz ele, é necessário reconhecer que “as entidades locais não possuem experiência no contato com instituições financeiras”. Em dezembro de 2010, o banco aprovou R$ 2,7 bilhões para a nova fábrica da Suzano no Maranhão. No final do mesmo mês, o BNDES possuía 4,38% de participação acionária na empresa. Com o financiamento à unidade no Maranhão, o número pode subir, bem como o poder do banco na empresa”.
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