Adital – Medo e apreensão. Essas duas palavras resumem bem o sentimento das famílias da ocupação Quilombo Guerreira Ninha, na Bahia. Tudo indica que a comunidade será despejada na próxima sexta-feira (17). Caso isso ocorra, 70 famílias irão para as ruas da capital baiana.
De acordo com informações do Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB), o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia acatou a liminar de reintegração de posse a favor da Fábrica de Gases Industriais Agro Protetoras (Fagip). O terreno, localizado no bairro Plataforma, em Salvador, atualmente abriga 70 famílias.
O Movimento denuncia que o Ministério Público não foi ouvido antes da concessão da liminar. Além disso, segundo o MSTB, a Fagip não provou a posse no imóvel, somente a compra e venda dele, o que, de acordo com o Movimento, não é suficiente para comprovar a posse do terreno. Segundo Maria Lucianne Ferreira (mais conhecida como Elaine), líder da comunidade, o local estava abandonado há mais de 25 anos, já estava loteado e seria colocado à venda.
A preocupação da líder não é exagero. De acordo com ela, as famílias, que estão lá há quase cinco meses, não têm alternativa: se forem despejadas, irão para as ruas. “Não têm opção para onde ir”, afirma, acrescentando que, mesmo se tiverem de cumprir o mandado de reintegração de posse, as famílias voltarão, caso não encontrem outro local. “A gente sabe que é área de risco. Se botarem a gente em outro lugar, ótimo. Se não, a gente volta”, avisa.
Apreensiva, Elaine lembra que a comunidade possui 70 famílias, com crianças, gestantes, idosos e pessoas com deficiência. A líder espera apenas encontrar uma solução para a comunidade e acredita que conseguiria isso com um pouco mais de tempo. “Precisamos de mais tempo para resolver as coisas. Se dessem mais tempo para resolver…”, comenta, observando a falta de interesse da empresa em dialogar e tentar resolver a situação.
Se nada for feito até sexta-feira, todos poderão ir para as ruas da capital baiana. Entretanto, Elaine revela que as famílias estão dispostas a resistir. “As pessoas estão passando mal [desde quando souberam da ordem de despejo], algumas dizem que vão entrar no barraco e esperar o caminhão passar por cima”, afirma.
Para ela, essa situação mostra bem a falta de respeito ao direito à habitação. “Nós temos direito à moradia. Que moradia?”, indaga, lembrando que o direito ainda não é assegurado para uma parcela da população. “Os movimentos sociais é que estão lutando por esse direito, pelo espaço”, destaca.
Mais informações em: http://www.mstb.org.br/
* Jornalista da Adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=53143
Prezado Arruti,
publicamos o texto completo, sob o título “Koinonia quer direito de resposta”, no dia 8 de dezembro último.
TP.
CARTA ABERTA
KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço está sendo usada, mais uma vez,
como bode expiatório para denúncias infundadas contra populações
sujeitas a preconceito social e racial e sob ameaça de deslocamento
compulsório, agora ao custo de argumentos ambientais sustentados na
desinformação.
Uma série de matérias jornalísticas e de opinião contrárias à
permanência da comunidade do Horto (bairro do Jardim Botânico, Rio de
Janeiro – RJ) em suas terras, publicadas pelo “O Globo”, “Extra” e o
“O Estado de São Paulo” (versões impressas e virtuais) nos primeiros
dias de dezembro, optam pela difamação e difusão de mentiras e pelo
tom de denúncia, com base em informações deturpadas retiradas de ante-
projeto elaborado por KOINONIA, por solicitação da AMAHOR ( Associação
de Moradores do Horto).
Já estamos acostumados com matérias irresponsáveis desse tipo, que
juntam meias-verdades com inverdades para repetir mentiras e sem
nenhum espaço para outras perspectivas sobre o mesmo tema. Estamos
acostumados a ver nosso direito de resposta negado. Estamos
acostumados a sermos citados sem sermos devidamente entrevistados ou
consultados.
Nessas matérias difunde-se que:
1. KOINONIA teria sede em Greenville, na Carolina do Norte (EUA). Na
realidade somos uma associação sem fins lucrativos brasileira, sediada
no Rio de Janeiro – RJ, como pode ser visto no nosso site http://www.koinonia.org.br.
2. KOINONIA teria por objetivo “entronizar as invasões do Jardim
Botânico”. A situação dos moradores não caracteriza invasões, mas
ocupações cujo início remete há quase um século, tendo origem em
formas variadas e legitimas, que só há poucos anos começaram a ser
questionadas pela administração do Jardim Botânico.
3. O Museu do Horto “Tem R$ 1,8 milhão para se instalar e quase a metade
de seu orçamento reservada ao pagamento do pessoal que, mesmo
trabalhando pela causa, não é de ferro”. Na verdade não há qualquer
financiamento aprovado. E se tivesse, implicaria, de fato, no
pagamento de um grande grupo de especialistas profissionais em
atividades temporárias, que, como qualquer trabalhador, inclusive
articulista de jornal, deve ser adequadamente remunerado por seus
serviços.
4. KOINONIA é financiada por “até um Fundo Mundial para o Socorro dos
Primatas”. Neste caso, o arremedo de pesquisa realizada pelo
competente jornalista erra na tradução, dando um tom cômico à
tragédia: trata-se do “Primate’s World Relief and Development Fund –
PWRDF (www.pwrdf.org) que, em bom português, seria melhor traduzido
como Fundo Mundial do Primaz (da Igreja Anglicana do Canadá) para
Ajuda Humanitária e Desenvolvimento.
5. KOINONIA apoiaria “não é de hoje, “grupos histórica e culturalmente
vulneráveis para todas vocações catequéticas”. Aqui vale uma nota
sobre a ignorância do jornalista sobre o significado do Movimento
Ecumênico, que não inclui qualquer tipo de atuação catequética ou
proselitista, mas justo a promoção da convivência e do diálogo entre
as religiões. Além disso, a palavra grega koinonia (comunhão) é de
livre uso, sendo utilizada até mesmo por churrascarias de beira de
estrada, que não são de propriedade da nossa associação sem fins
lucrativos. Essa ignorância, aliás, deve ser a fonte dos erros
grosseiros que nos atribuem sede na Carolina do Norte e a idéia de que
somos “uma igreja em movimento pelo, para e via o poder de Deus”.
6. KOINONIA “Instalou-se como tal no Brasil em 1994”. Na realidade,
KOINONIA foi fundada nesse ano por brasileiras e brasileiros de
diferentes tradições religiosas com longa tradição na luta pelo fim da
ditadura e pela democracia no Brasil.
7. KOINONIA teria prometido à candidata Dilma Rousseff “o apoio da
“População Negra” e agendado com a candidata um encontro formal com os
representantes nacionais do Povo Tradicional de Terreiro, após as
eleições”. Nesse caso, o articulista toma como palavras da instituição
os termos de um dos vários documentos de organizações religiosas
divulgados no site da instituição, justamente em seu trabalho de dar
espaço para manifestações bloqueadas pela grande mídia.
8. KOINONIA teria “um pacto de apoio incondicional à titulação fundiária
dos quilombos, em sua acepção mais vaga – a da semântica
antropológica, que ultimamente passou a considerar quilombo tudo o que
se diz quilombo”. Na verdade KOINONIA tem um compromisso social com a
causa quilombola, na forma pela qual ela se manifesta hoje, tanto na
sua definição por parte do movimento social quanto nas pesquisas
acadêmicas e na legislação vigente. Portanto, a definição de quilombo,
aceita por KOINONIA, não é arbitrária, mas está submetida a uma série
de critérios de legitimação que o jornalista poderia conhecer se
tivesse interesse.
9. “Talvez esteja em gestação um quilombo do Horto”. Sobre isso
declaramos que KOINONIA não conhece nem apóia qualquer demanda dessa
natureza no Horto.
10. “Por enquanto, a ideia do Museu do Horto está limitada a um site
criado pela Associação de Moradores e Amigos do Horto
(www.museudohorto.org.br)”. Aqui, finalmente, há a explicitação da má
informação veiculada pelas matérias mencionadas, que implica na
confusão entre duas iniciativas convergentes, porém, separadas. O
projeto do Museu do Horto, que hoje está em funcionamento no citado
site, não é de responsabilidade de KOINONIA, mas de pesquisadores
ligados ao IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus). O ante-projeto
preparado por KOINONIA para a AMAHOR implica em outras intervenções,
além do apoio ao Museu: projetos de contenção de encostas,
paisagísticos, de ajuste ambiental, inclusão digital e geração de
renda, e melhoria da qualidade de ensino nas escolas que atendem à
população.
Tais confusões parecem ter um mesmo objetivo: apresentar na forma de
denúncia um projeto de promoção social e ajuste ambiental justamente
para inviabilizar a aprovação de seu financiamento e sua realização
final.
Nestes tempos de ocupação policial-militar e necessidade de chegada do
Estado às comunidades que, por mais de 30 anos estiveram largadas ao
desmando, era de se esperar que iniciativas de comunidades urbanas
para conterem o crescimento desordenado, garantir uma convivência
ecológica com a natureza em seu entorno e conceber uma urbanização
humana e respeitosa, fossem elogiados.
A apresentação de um fantasma no Jardim Botânico, na forma de um
Museu, aponta para o pânico generalizado que a cobertura jornalística
promove na atual ocupação do Complexo do Alemão. São todas comunidades
que estão “onde não deveriam estar”, segundo estes meios de
comunicação que não são formadores de opinião, mas monopolizadores dos
meios de produzir opinião. Denuncia-se um propósito comunitário de
convivência com o meio ambiente, de educação qualificada e de projeto
de cidadania como se fosse um demônio a ser exorcizado, e junto com
ele, toda a comunidade e seus amigos.
As únicas acusações que KOINONIA aceita são as de estar ao lado de
quilombolas, de negros e de terreiros de candomblé. Acusações como
essas só confirmam que estamos do lado e no caminho certos.
KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço
LINKS MATÉRIAS
O GLOBO em 01/12/2010
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/12/01/comunidades-do-horto-busca…
O GLOBO em 02/1’2/2010:
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/12/02/pt-rj-vai-discutir-conflit…
BLOG DO RICARDO NOBLAT em 07/12/2010 – Texto de MARCOS SÁ:
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/12/03/so-falta-um-quil…
JORNAL ESTADÃO – MARCOS SÁ CORREA em -3/12/2010:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101203/not_imp648831,0.php
JORNAL EXTRA em 01/12/2010
http://extra.globo.com/rio/materias/2010/12/01/comunidades-do-horto-b…