Manifestantes cobram avanço em investigação

ATO EM PROTESTO contra a impunidade no caso do líder comunitário José Maria, do Município de Limoeiro do Norte, na Praça da Polícia Civil, no Centro de Fortaleza. A manifestação reuniu entidades, amigos e familiares do agricultor MELQUÍADES JÚNIOR

Entidades lembraram, ontem, na Capital, três meses da morte de Zé Maria. Polícia ouviu 40 pessoas no inquérito Fortaleza. Das ruas de Limoeiro do Norte para o Centro de Fortaleza ecoaram os mesmos gritos uníssonos: “Zé Maria vive! Até quando? Sempre, sempre”. O ato público em frente à sede da Superintendência da Polícia Civil levou à Capital o sentimento de revolta de trabalhadores rurais de Limoeiro e de movimentos sociais e religiosos do Estado com os três meses da morte do líder comunitário José Maria Filho, ou “Zé Maria do Tomé”. Ele foi o maior denunciante dos problemas envolvendo agrotóxicos e expropriação fundiária na Chapada do Apodi. Presente no protesto, a família pediu justiça, e a polícia até agora não avança nas investigações. Ontem, em Limoeiro, a Polícia ouviu mais um suspeito de participação no crime.

Em pé, calada, preferindo não dizer nada, apenas ouvindo os que falam por ela, dona Maria Lucinda, viúva de ´Zé Maria´, acompanha o protesto no Centro de Fortaleza. Chegou cedo com as filhas Márcia e Juliane, que em memória à luta do pai não perdem nenhum dos protestos contra abuso de agrotóxicos, contra a pulverização aérea e contra a impunidade.

Os comerciantes e os aposentados que povoam a praça em frente à Superintendência da Polícia Civil entendem o movimento: “eu soube desse problema no Limoeiro, o pior é que é em todo canto e ninguém dá jeito”, diz Francildo Ferreira, vendedor de raízes de plantas medicinais.

“Tivesse sido um empresário, um político, a Polícia Federal e a Polícia Civil já tinham ido atrás e prendido os culpados”, reclama Lourdes Vicente, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina. O ato de protesto seguiu em cortejo da praça da Polícia Civil à sede do Ministério Público do Estado. É desses dois órgãos públicos que os manifestantes, além dos moradores da comunidade de Tomé, em Limoeiro, ainda amedrontada, aguardam uma “resposta”.

Combativo nos problemas de contaminação por agrotóxicos, José Maria Filho questionava, também, as formas de apropriação das áreas rurais na Chapada do Apodi feitas por médios e grandes empresários. Agricultor desde criança, o morador da Comunidade do Tomé viu a chegada da agricultura irrigada e, ao mesmo tempo, uma invasão de grandes empresas rurais, comprando, sem documento, as terras dos agricultores que, endividados junto aos bancos que forneciam os créditos para plantação, venderam as terras e se tornaram funcionários rurais dessas empresas. Líder da Associação dos Ex-Irrigantes do Jaguaribe Apodi (Aija), José Maria questionava, ainda, a lentidão do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) na demarcação de terras, medida que ganhou agilidade após a repercussão das denúncias do líder comunitário veiculadas no Diário do Nordeste nos últimos anos.

As reportagens com denúncias sobre expropriação fundiária e contaminação por agrotóxicos, tendo como uma das principais fontes José Maria Filho, causaram a reação de empresas em questão, e do assunto o próprio agricultor denunciou sofrer censura por uma rádio local, que supostamente pretendia preservar a imagem de um cliente publicitário. As denúncias sobre terras e contaminações foram aos poucos sendo comprovadas pelo Dnocs, Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) e Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Isso não é o fim, o protesto é para reiterarmos que a luta continua, e aqui estamos buscando paz e harmonia”, afirma padre José Almir, pároco de São João do Jaguaribe, que vê associação de causa entre os crimes de morte de Chico Mendes, da missionária Dorothy Stang e do líder comunitário José Maria Filho.

Até agora foram ouvidas cerca de 40 pessoas no inquérito policial presidido pelo delegado José Fernandes, com auxílio dos delegados Jocel Dantas e Antônio dos Santos Pastor. Ontem à tarde, em Limoeiro, foi acareado um suspeito de ter participado do crime.

Depois de mais de um mês de investigações, a Polícia encaminhou o material que tinha à Justiça. Por falta de informações, divergências e trabalho de perícia inacabado, a justiça reenviou o documento. “Nem todas as perícias ainda foram concluídas, pois ainda tem material a ser encaminhado para a delegacia. Estamos aqui porque acreditamos que vamos elucidar a execução material do crime”, afirma o delegado auxiliar no inquérito que apura a morte de José Maria, Jocel Dantas.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=818307

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