Mapa da pobreza na América Latina

A pesquisa leva em conta não apenas a situação de renda das famílias, mas também parâmetros de acesso a serviços básicos. A Argentina ocupa o terceiro lugar na qualidade de vida das crianças pobres, com uma incidência de 28,7%.

A reportagem é de Sebastián Premici e está publicada no jornal argentino Página/12, 07-07-2010. A tradução é do Cepat.

Na América Latina há 80 milhões de crianças que vivem em situação de pobreza. Desse total, 17,9% moram em condições de pobreza extrema (32 milhões). Os dados são de um relatório elaborado pela Cepal e a Unicef cujas conclusões preliminares acabam de ser apresentadas. Ali se estabelece que de 18 países da região, a Argentina ocupa o terceiro lugar quanto à qualidade de vida das crianças pobres, atrás apenas do Uruguai e da Costa Rica. Mais abaixo aparecem Colômbia, Brasil, México, Peru, Bolívia e Honduras, entre outros. O parâmetro utilizado não é só o da renda, mas também as possibilidades de acesso a serviços básicos, como educação, saúde, água potável, alimentação e informação.

“Os governos que melhoraram muito são Uruguai, Costa Rica e Argentina. Nossos indicadores dão conta de políticas de longo prazo. Se as crianças têm um acesso melhor a saúde, ficarão menos doentes, poderão se alimentar melhor e terão mais oportunidades de aprender durante a sua passagem pela escola”, indicou Enrique Delamónica, assessor de política social e econômica da Unicef.

Em 2005, a Unicef estabeleceu uma definição de pobreza: “Os meninos e as meninas pobres são aqueles que sofrem uma privação dos recursos materiais, espirituais e emocionais necessários para sobreviver, se desenvolver e prosperar”. Esta aproximação à pobreza infantil permite entender o fenômeno de maneira integral, não apenas limitado à questão da renda.

A Cepal e a Unicef elaboraram o relatório A pobreza infantil: um desafio prioritário – cujo resultado final será publicado em aproximadamente dois meses –, que mediu os níveis de pobreza das crianças da América Latina. Os países melhor situados são Costa Rica, com 20,5% de sua população infantil na pobreza; Uruguai (23,9%), e em terceiro lugar a Argentina (28,7%). Ainda que sejam números altos, contrastam com os resultados de outros países da região. No topo da lista figuram El Salvador (86,8%), Guatemala (79,7%), Bolívia (77%), Peru (73%), México (40%) e Colômbia (38,5%). Cuba não aparece no relatório.

O trabalho elaborado por estes dois organismos pretende oferecer ferramentas para que os países possam medir corretamente a pobreza. Por isso destacam que não basta levar em conta os indicadores de salário ou os dados da inflação e o custo da cesta básica, como ocorre na Argentina com a medição do Indec. As autoridades do organismo estão trabalhando para modificar o indicador de pobreza por esse mesmo motivo. O índice atual, que toma como registro as linhas de pobreza e indigência, foi constituído na década de 90, sob a influência de Domingo Cavallo.

“Os pais podem ter renda abaixo da linha de pobreza, mas graças às políticas públicas em educação, saúde, alimentação, as crianças podem não sofrer uma condição de pobreza infantil, entendida pela perda de direitos essenciais”, explicou Delamónica.

Os dados para este relatório são de 2006 e 2007. Apesar desta aparente desatualização, os técnicos da Unicef e da Cepal explicaram a este jornal que as pesquisas que tomam serviços básicos como indicadores mudam em períodos maiores a três anos, ao passo que os indicadores que tomam apenas o item renda são atualizados mensalmente. Esta diferenciação não é sem importância, sobretudo em um país onde suas estatísticas públicas estão sob suspeita e qualquer consultora diz ter a capacidade de medir os níveis reais de pobreza.

Por exemplo, o diretor da Rede Solidária, Juan Carr, assinalou nos últimos dias que não questiona a existência da pobreza, mas reconhece que “a fome continua baixando no país nos últimos oito anos, graças à ação do Estado e de outras instituições”.

“A existência de privações severas ou moderadas que afetem a população infantil são superáveis a partir de uma maior intervenção direta dos Estados – em saúde e educação – e indireta, mediante o aumento da renda dos lares, quer seja pela criação de emprego ou pelas transferências monetárias (se bem que no relatório não se esclarece, este seria o caso da Renda Universal Por Filho). Os investimentos sociais e o gasto público para a infância não só devem ser incrementados para melhorar as condições de vida das crianças, mas também para promover um desenvolvimento mais inclusivo e igualitário”, destaca o relatório da Cepal-Unicef.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=34105

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