CE – “Raízes da Praia”: um ano de luta e resistência, mas com demandas ainda pendentes

Fortaleza, Ceará – No dia 3 de junho de 2009, 80 famílias se mobilizaram e ocuparam um terreno baldio na Praia do Futuro, abandonado há mais de 25 anos, sem cumprir função social alguma, como estabelece a Constituição. Assim nascia a ocupação Raízes da Praia, formada por homens, mulheres e crianças que sentiram a necessidade de terem preservados seus direitos à habitação, portanto, a uma vida digna.

No próximo sábado, 3 de julho, atividades celebram o aniversário do “Raízes” e apontam para o poder de mobilização e organização da comunidade, mas também para demandas que – em um ano – continuam pendentes por conta dos órgãos públicos envolvidos na questão.

A programação começa às 7h com uma missa seguida de café da manhã. Às 12h, a comunidade oferece uma feijoada e às 17h, acontece um ato de celebração pelo aniversário de um ano da Raízes da Praia. A noite se encerra com uma seresta programada para às 20h.

Pendências

Um ano se passou e até agora a questão da desapropriação do terreno não foi totalmente resolvida. E não há resposta definitiva por parte da Prefeitura. Segundo o Movimento dos Conselhos Populares, no qual as famílias se organizaram para a ocupação – o terreno possui oito lotes, e a Prefeitura só conseguiu comprar quatro deles, pertencentes à família Otoch. Outros quatro são de outros proprietários. E aí está a pendência.

“A desapropriação foi parcial. E a comunidade está reivindicando que seja completa”, afirma Igor Moreira, do MCP. Como forma de pressionar para que a Prefeitura agilize o processo, as famílias organizaram uma abaixoassinado que estará circulando durante todo o dia de sábado. Outra questão pendente diz respeito aos projetos de moradia. Embora haja diálogo com a Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza, a Habitafor, Igor explica que ainda há poucos avanços concretos.

Luciana Sousa, moradora do “Raízes”, conta que por três vezes a equipe da Habitafor marcou de ir ao local para apresentar projetos ou soluções de moradia para a comunidade, mas todas as três vezes foram desmarcadas. “Por isso vamos pressionar mais”, disse.

Avanços

Porém, motivos para comemorar não faltam. Ao lembrar todo o recorrido, Luciana Sousa fala dos momentos de tensão vividos pelas famílias nos primeiros meses, quando o assunto tomou maior visibilidade. “Passamos por muitas coisas juntos, muitas ameaças, mas soubemos resistir”, diz. E foi com muita resistência e organização, que as famílias enfrentaram ameaças de todo o tipo e até milícias, mas garantiram seu espaço na cidade de forma digna.

Neste período de um ano, houve alguns avanços. Entre eles, Luciana destaca que a comunidade já tem energia elétrica e as crianças e adolescentes participam ativamente de programas de esportes levados pela Secretaria de Esporte e Lazer de Fortaleza (Secel). “Elas participam de aulinhas de futebol, capoeira. É muito bom ver elas inseridas assim”, comenta. Na comunidade, cerca de 26 crianças também têm aulas de reforço escolar nos turnos da manhã e da tarde.

Na área da saúde, mais uma vitória foi conquista na semana passada. Como não tinham endereços reconhecidos ou cadastrados, as famílias não podiam se consultar em unidade de saúde. Mas na última quinta, uma equipe de assistentes sociais da Prefeitura foi até o local fazer o cadastro dos moradores da “Raízes” e agora eles podem fazer consultas no posto médico da Praia do Futuro.

Raízes

Passados um ano, Luciana explica que como a resistência, a união e a força foram imprescindíveis para a organização da comunidade Raízes da Praia. “De tudo isso, ficou muito união, estamos organizados em assembleia, as pessoas participam, temos mais noções de nossos direitos”.

Neste aniversário de um ano, continua atual um dos parágrafos escritos nos primeiros comunicados que circularam por Fortaleza. A AnotE, em total consonância com o momento reproduz o trecho: “Estamos organizados e prontos para o que der e vier. Largamos o aluguel, saímos da casa dos nossos parentes, abandonamos as áreas de risco, e agora somos a comunidade Raízes da Praia”.

Fonte: AnotE – Agência de Notícias Esperança

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