Unindo pesquisa genética com análises culturais, o antropólogo criou uma imagem dos Yanomami como um povo guerreiro e violento, o que acabou levando os militares, durante a ditadura, a propor a demarcação descontínua das terras Yanomami na tentativa de isolar os índios em “ilhas” e evitar, assim, as guerras entre as diferentes tribos Yanomami. Desnecessário dizer que o território Yanomami é uma das reservas mais ricas em minérios, os mais variados.
Essa demarcação descontínua, como sabemos, não ocorreu, mas isso não eliminou os conflitos ligados a essa pesquisa. As amostras de sangue Yanomami retiradas, na época, continuaram a ser usadas em pesquisas genéticas longo dos anos 1980, 1990 e 2000 sendo, inclusive, parte do projeto Genoma Humano. Acontece que os Yanomamis não foram avisados de que suas amostras de sangue seriam guardadas, o que, para a cultura deles, é totalmente inadmissível, sobretudo depois que a pessoa morre, já que o cerimonial funeral envolve a destruição de todo o corpo do morto.
Até hoje, os Yanomami estão numa disputa para que se reconheça que se trata de um caso explícito de biopirataria e ter o sangue colhido de volta. Foi sobre isso que a Nadja fez um belíssimo documentário que inclusive ganhou o 8th Gottingen International Ethographic Film Festival. O documentário está disponível no em quatro partes, das quais a primeira pode ser vista acima.
Napëpë – que permaneceu atual – volta a ser notícia agora por outros motivos. O diretor de cinema José Padilha, famoso por Tropa de Elite, acabou de lançar um filme, feito com patrocínio da Globo e da BBC, chamado “O segredo da tribo”. O filme estreou no festival “É tudo verdade” e está fazendo sucesso. Mas, apesar de conter cenas idênticas a outras, do filme da Nadya, sequer menciona Napëpë. O que é lamentável!