A Superintendência da Polícia Civil designou dois delegados de Fortaleza para investigar a morte do ambientalista José Maria Filho, executado com 19 tiros no último dia 21. Delegado de Russas, que fazia parte da força-tarefa, se afastou do caso
Tiago Braga
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As investigações sobre a morte do ambientalista e líder comunitário José Maria Filho, o Zé Maria do Tomé, ganharam o reforço de dois delegados: Santos Pastor, da Divisão Anti-Sequestro (DAS), e Jocel Dantas, do Departamento de Polícia do Interior (DPI). Eles foram convocados pelo superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas, na tarde do último sábado. “É para assessorar o delegado regional de Limoeiro do Norte. Ajudar no que for preciso“, resume o superintendente.
O ambientalista Zé Maria foi executado com 19 tiros, no último dia 21. Ele ficou conhecido pela luta contra o uso do agrotóxico na Chapada do Apodi. Também lutava por terra para pequenos agricultores da área. O crime chocou a região e a Superintendência da Polícia Civil determinou uma força-tarefa para investigar o caso. O delegado regional de Russas, Luciano Barreto, foi o primeiro a ser designado para auxiliar o delegado de Limoeiro do Norte, José Fernandes.
A escolha de Luciano Barreto incomodou a Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares no Nordeste, que enviou uma nota ao O POVO, no último sábado. O texto, assinado por 23 entidades, informa que o delegado responde a processo por tentativa de homicídio e tortura contra pescadores de Curral Velho, em Acaraú, em 2004. Os pescadores eram contra uma empresa que criava camarão em cativeiro.
`Não se pode aceitar a participação deste agente público nas investigações, posto que, se encontra sob suspeita de servir ao mesmo modelo opressor, degradador e excludente que Zé Maria lutava contra“, defende a nota. No mesmo dia em que o documento foi enviado, a Superintendência da Polícia Civil designou os dois novos delegados.
Luiz Carlos Dantas nega que a escolha dos novos delegados tenha ligação com a nota escrita pela rede de advogados. Ele também afirma que Luciano Barreto foi chamado apenas para auxiliar no início das investigações. “A delegacia de Limoeiro do Norte é subordinada a de Russas. Quando aconteceu o crime, chamei (o Luciano) para ajudar, enviar policiais ao local“, argumenta o superintendente, informando que o delegado Barreto já se afastou do caso.
`Esse crime é complexo, não tem como ele continuar. A (delegacia) Regional de Russas assiste muitos municípios. É muito trabalho“, justifica. Na última sexta-feira, Dantas afirmou ao O POVO que havia designado, por meio de portaria, que Luciano Barreto auxiliasse o delegado de Limoeiro do Norte nas investigações. “Não teve portaria. No dia do crime, liguei para ele e pedi que desse apoio“, disse, ontem.
E-MAIS
> O delegado Jocel Dantas já viajou para a Chapada do Apodi. “Vamos dar apoio. A gente tem carência de policiais em Limoeiro do Norte“, lembra. Ele aproveitou o fim de semana para se inteirar do caso.
> Jocel informa que já foram ouvidos familiares e amigos do ambientalista. “Também fomos aos últimos locais onde ele esteve“, diz. O inquérito deve ser concluído em 30 dias. A suspeita é de crime de pistolagem. O outro delegado, Santos Pastor, deve viajar para Limoeiro hoje.
> O delegado Luciano Barreto foi denunciado pelo Ministério Público por agressão a pescadores de Acaraú. Segundo a denúncia, ele e outros dois policiais faziam a segurança particular de uma empresa de carcinicultura. O processo ainda tramita na Comarca de Acaraú. O POVO tentou falar com Luciano, mas ontem ele estava de folga. A delegacia de Russas não informou o telefone celular dele.
http://opovo.uol.com.br/opovo/ceara/976876.html