Rogério Tomaz Jr. *
[Adital] – Nas últimas semanas, o decadente jornal “O Estado de S. Paulo” – tomado da família Mesquita por conta da incompetência administrativa e hoje controlado por bancos e credores do jornal – ligou novamente sua metralhadora giratória contra o MST.
Desta vez, tem dois objetivos complementares. O primeiro é desqualificar e criminalizar, antes mesmo do seu início, a tradicional jornada de lutas que o Movimento faz em abril.
Esse é o tom permanente da “cobertura” jornalística do Estadão e dos demais representantes do PIG (Partido da Imprensa Golpista): Folha de S. Paulo, Globo, Veja, Band e outros. O segundo objetivo é vincular as ações da jornada à campanha da candidata petista à presidência, Dilma Roussef. Pretendem responsabilizá-la pela “algazarra” (termo utilizado por Gaudêncio Torquato, professor da USP e conhecido pena de aluguel dos tucanos, em artigo no Estadão de 4 de abril).
Entretanto, nos próprios argumentos utilizados pelos escribas e “analistas” do Estadão aparecem as marcas da independência do MST em relação aos ocupantes do Palácio do Planalto.Em 2004 e 2007, por exemplo, foram realizadas 103 e 74 ocupações de terra, respectivamente, durante a jornada de lutas do movimento.
A informação foi dada pelo próprio ex-jornal dos Mesquita, que hoje controlam apenas as páginas de opinião, mas a linha editorial conservadora e reacionária continua predominando.
No “jornalismo” praticado pelos veículos do PIG, não há espaço para lembrar a execução de 19 militantes do MST no Massacre de Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996. Bem como não há espaço, na visão dos editores do Estadão et caterva, para analisar o significado dos assassinatos de mais 1500 lideranças e trabalhadores(as) rurais nos últimos vinte anos no Brasil.
Esses tristes episódios são monitorados e sistematizados por um órgão da Igreja Católica, a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
As lentes obtusas dos redatores e articulistas do Estadão não conseguem aceitar a realidade de um movimento campesino de massas que atue com autonomia e independência em relação aos governantes de plantão.
O jornal centenário – que ganhou muito dinheiro com anúncios do mercado escravagista – defende sem qualquer ressalva o grande agronegócio nacional.
Esse setor é responsável direto pela devastação ambiental, pelo uso de mão-de-obra escrava em pleno século 21, pelos seguidos calotes aos cofres públicos (que eles chamam de “renegociação”).
Também pelo envenenamento das nossas lavouras (o Brasil é hoje o campeão mundial no uso de agrotóxicos) e pela expulsão dos camponeses do campo, gerando o inchaço populacional nos grandes centros urbanos, entre outros males.
Por conta dessa visão de mundo, arcaica e ultrapassada, os jornalões tradicionais estão cada vez mais desacreditados e muitos estão à beira da falência.
A imprensa diária brasileira talvez seja o único setor empresarial do país que não desponta com destaque no mundo. Entre os 100 maiores diários em circulação no planeta, não existe um sequer do Brasil.
No exterior os movimentos sociais brasileiros são beneficiários do reconhecimento e apoio de personalidades e instituições renomadas.
O MST já recebeu diversos prêmios internacionais*.
E possui 40 comitês de amigos no exterior, organizados na Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Finlândia, Grécia, Holanda, Inglaterra, Itália, Portugal, Noruega, Suécia, Suíça, Austrália, Canadá e Estados Unidos.
Nesta segunda (12), o diretor de “Avatar”, James Cameron, e a atriz Sigourney Weaver marcharam em Brasília junto ao Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)**, em ato contra a implantação da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
Enquanto isso, os jornais brasileiros a cada ano perdem mais assinantes, circulação em banca e, sobretudo, credibilidade, maior patrimônio da imprensa.
O MST e os outros movimentos sociais criminalizados pelo PIG marcham para a construção do futuro: um país com justiça social e igualdade no acesso aos direitos e às riquezas produzidas pela sociedade.
Os representantes do PIG lutam contra a marcha da história, buscando em vão recuperar o prestígio e o poderio econômico e a influência política que outrora tiveram.
Encarnam o passado.
Lutam contra a própria (e inevitável) decadência, que é a mesma da classe por eles representada: a elite agrária caduca e agonizante frente à perda dos privilégios históricos.
Ainda que tentem disfarçar, os ataques do Estadão e demais veículos do PIG à jornada de lutas de abril não são nada mais do que o grito dos desesperados.
Um ditado árabe é antigo e gasto, mas muito adequado e atual: os cães ladram, mas a caravana passa.
[*Alguns prêmios recebidos pelo MST: Prêmio Nobel Alternativo, concedido pela Fundação The Right Livelihood Awards, da Suécia (1991); Prêmio Memorial de la paz y la solidaridad entre los pueblos, concedido pela Fundación Servicio Paz y Justicia da Argentina (1995); Prêmio Rei Balduíno 1996, concedido pelo Rei da Bélgica (1996); Prêmio Internacional à InovaçãoTecnológica, concedido pela Associação dos Engenheiros Industriais de Catalunha (2000).
**O MAB faz parte da Via Campesina, articulação latinoamericana de movimentos sociais campesinos].
* Jornalista em Brasília e integrante do Intervozes