Com críticas às transnacionais e ao capitalismo, Cúpula dos Povos pede por novos paradigmas

Flavia Bernardes

Índios, quilombolas, pescadores, ambientalistas, camponeses, movimentos de mulheres, sociedade civil, sindicatos e organizações deixaram claro seu papel no maior debate político ambiental do planeta, a Rio+20, que terminou na última sexta-feira (22), no Rio de Janeiro. No documento intitulado “Declaração Final da Cúpula dos Povos”, ressaltam a diferença entre o debate político ocorrido na cúpula mundial de meio ambiente e a vontade popular expressada durante os debates alternativos. E enfatizam: a verdadeira causa estrutural da crise global é o sistema capitalista associado ao patriarcado, ao racismo e à homofobia.

De acordo com o documento, a maioria dos governos demonstrou irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveu os interesses das corporações na conferência oficial, enquanto na Cúpula dos Povos, tanto as assembléias quanto as mobilizações expressaram a organização da sociedade civil para o fim do controle das grandes empresas.

“Conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre a humanidade e a natureza, assumimos o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade”, diz a Declaração.

Os participantes da Cúpula dos Povos criticam instituições financeiras multilaterais e coalizões a serviço do sistema financeiro (G8/G20), assim como o crescimento destas instituições, apontadas como um dos motivos de retrocessos em relação aos direitos humanos no planeta.

“A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema econômico-financeiro”.

As transnacionais instaladas no Espírito Santo, a ex-Aracruz Celulose (Fibria) e a Vale foram duramente criticadas durante todo e evento por violações aos direitos humanos e ambientais. Segundo a declaração, as grandes corporações continuam desrespeitando direitos “com total impunidade”, ao mesmo tempo em que avançam na criminalização dos modos de vida dos povos e movimentos sociais.

Mesmo festejada entre as empresas, a economia verde, no documento, é desqualificada por se tratar de uma expressão da atual fase financeira do capitalismo que, na prática, utiliza os mesmos mecanismos que levam ao endividamento público-privado.

Para a sociedade civil organizada que participou da Cúpula dos Povos, a defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, o que não ocorre dentro das políticas chamadas “verdes” das grandes corporações.

É o povo, portanto, quem deve determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e energéticos. “Um novo modelo está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para corporações”, exemplifica o documento.

Assina a declaração o Comitê Facilitador da Sociedade Civil na Rio+20. O evento Cúpula dos Povos na Rio +20 por Justiça Social e Ambiental ocorreu paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), organizado pela sociedade civil.

http://www.seculodiario.com.br/exibir_not.asp?id=86692

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