Iniciativa privada domina setor no Chile e explicita a divisão de classes sociais
Luciana Silvestre Girelli
Atualmente, as famílias chilenas são responsáveis por financiar em 80% a educação superior. Nas universidades consideradas públicas, além de taxas de matrícula, os estudantes pagam mensalidades que custam muito mais que um salário mínimo. “O financiamento de um curso superior pode chegar a 300 mil pesos chilenos mensalmente, enquanto o salário mínino é 182 mil pesos. Esse quadro também explica a massividade do movimento”, afirmou a integrante da Univerdad Popular de Valparaíso, Ximena Muñoz. Diante dessa situação, o financiamento público da educação é uma das principais pautas de reivindicação do movimento estudantil, tanto universitário quanto secundário.
O panorama da educação secundária é bastante parecido com a situação do ensino universitário. A sustentação dos colégios é feita pela iniciativa privada e os liceus foram municipalizados, o que é um problema na medida em que quantidade de dinheiro que se investe na educação não é igual em todas as comunas chilenas, o que gera uma desigualdade na qualidade do ensino. “No Chile, a educação explicita a divisão de classes sociais. A melhor educação está nos colégios privados, o que irá influir nas possibilidades de ingresso dos jovens no mercado de trabalho e na universidade. Para os estudantes secundários pobres, a possibilidade de ingresso nas universidades é quase nula, o que faz com que estudem em colégios técnicos para ter uma carreira profissional de menor grau, recebendo salários baixos, com péssimas condições de trabalho e sem possibilidade de sindicalização”, explicou o integrante da Asamblea Coordinadora de Estudiantes Secundários (ACES), Alfredo Vielma.
Nesse contexto, a consigna principal do movimento estudantil é “educação gratuita”, que explicita a luta pelo financiamento público da educação. “Hoje partimos do pressuposto de que não há uma educação pública a ser defendida, mas sim uma educação pública a ser recuperada neste país. Por isso, avançamos para a consigna da educação gratuita, contrária à educação neoliberal”, afirmou o integrante da UNE, Gustavo Pacheco Figuera. Além do financiamento público para a educação em todos os níveis e da desmunicipalização no ensino primário e secundário, a pauta estudantil também agrega o tema da democracia interna nas instituições de ensino e a gratuita do transporte escolar.
Foto: Claudio Olivares Medina/CC
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