“É preciso que os consumidores saibam que a carne que a maioria dos brasileiros consome carrega consigo a exploração de milhares de trabalhadores”.
Por Amalia Iglesias Antúnez, em Rel-UITA
Dia 16 de outubro, a Confederação Brasileira Democrática de Trabalhadores da Indústria da Alimentação (Contac) convocou uma mobilização contra os excessos da JBS-Friboi, principal exportadora de proteína animal do mundo. Célio Elias, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Carne e Derivados de Criciúma e Região (SINTIACR) e um dos diretores da Contac, analisou, em entrevista à Rel, os alcances desta manifestação que levou mais de 4 mil trabalhadores a ocupar a Avenida Paulista (SP).
Como você avalia a mobilização de 16 de outubro?
Foi muito positiva, entre outras coisas, porque marcou a unidade entre os trabalhadores e os produtores. Além disso, expôs as políticas praticadas pela JBS, que são as mesmas em toda a cadeia produtiva.
Tanto os produtores como os trabalhadores das fábricas frigoríficas estão com os seus direitos mais básicos ameaçados por esta transnacional.
Quanta gente participou da manifestação?
Foram cerca de quatro mil trabalhadores, trabalhadoras e produtores oriundos de vários estados, como o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de São Paulo, para denunciar o enriquecimento dos frigoríficos brasileiros à custa do sacrifício de seus trabalhadores e produtores avícolas.
Como dirigente sindical e trabalhador frigorífico, o que você espera deste ato?
Principalmente, que a sociedade em seu conjunto conheça as práticas abusivas da JBS-Friboi, uma empresa que é capaz de investir milhões em publicidade, mas não de promover bem-estar aos seus trabalhadores.
É preciso que os consumidores saibam que a carne que a maioria dos brasileiros consome carrega consigo a exploração de milhares de trabalhadores.
Também esperamos que a JBS-Friboi demonstre algum tipo de reação, respeitando os direitos básicos tanto dos seus produtores como dos seus trabalhadores, dando a eles melhores condições de trabalho e salariais, por meio de uma mesa nacional de negociação.
Não é possível que nos dias de hoje, os produtores recebam da JBS a irrisória cifra de menos de 25 centavos de dólar por frango. Isto é exploração e humilhação.
Quais serão os próximos passos de vocês?
Primeiramente, em nota, solicitaremos à empresa a retomada das negociações por melhores condições de trabalho para os trabalhadores dos frigoríficos e para os produtores avícolas.
Caso a JBS continue ignorando as nossas reivindicações, coordenaremos uma campanha internacional de denúncia, em parceria com a Rel-UITA, para informar os consumidores dos países que importam os produtos da JBS-Friboi sobre os excessos cometidos durante toda a etapa de produção da carne no Brasil. Também ajudaremos a coordenar possíveis boicotes às marcas e aos produtos da empresa.
Tradução: Luciana Gaffrée
* * *
Cifras absurdas
A JBS é líder mundial no processamento de proteína animal, conta com mais de 200 mil trabalhadores, distribuídos em 340 unidades de produção, em 150 países, operando nas áreas de alimento, couro, biodiesel, colágeno, embalagens metálicas e produtos de limpeza.
Com um lucro líquido de mais de 430 milhões de dólares, no primeiro semestres deste ano e com o financiamento do BNDES, a JBS-Friboi vem adquirindo empresas do setor, tanto locais como internacionais, entretanto paga aos seus produtores avícolas o humilhante valor de 25 centavos de dólar pela unidade de frango.
Foto: Lucía Iglesias