Cecilia Coelho, MinC
Localizada no sítio histórico de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, a Tava Miri São Miguel Arcanjo, lugar sagrado para o povo indígena guarani-mbyá, recebeu o certificado de Patrimônio Cultural Brasileiro. A entrega do registro ocorreu nesse sábado (15), durante o encerramento do evento Brasil Indígena: história, saberes e ações, que reuniu cerca de 200 lideranças indígenas, ao longo de uma semana, com o objetivo de debater políticas culturais para esse público. A cerimônia teve a presença do ministro da Cultura, Juca Ferreira, e do diretor do Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), TT Catalão.
“O Registro da Tava como um lugar de referência para o povo guarani agrega novas dimensões simbólicas a esse bem e apresenta um discurso distinto sobre sua valoração”, destaca TT Catalão. “Para os guarani-mbyá, a Tava é um local onde viveram seus antepassados, que construíram estruturas em pedra, nas quais deixaram suas marcas e parte de suas corporalidades, por conter os ‘corpos’ dos ancestrais que se transformaram em imortais, e onde é possível vivenciar o bom modo de ser guarani-mbyá, que permite tornar-se imortal e alcançar Yvy Mara Ey (a Terra sem Mal)”, explica.
A proposta de registro da Tava Miri São Miguel Arcanjo como lugar de importância e referência cultural para o povo guarani foi apresentada pelos representantes das comunidades da etnia, com apoio da Superintendência do Iphan no Rio Grande do Sul. Ao realizar o pedido, ressaltaram que o parque havia sido tombado pelo Iphan desde 1938, mas que os valores que motivaram o tombamento não abarcavam toda a importância e complexidade que ele tem para esse povo indígena.
Até que Tava fosse inscrito no Livro de Registro dos Lugares do Iphan, em 2014, foram necessários dez anos de conversas com ativa participação do povo guarani. “A ação do Iphan que levou ao Registro da Tava teve início em 2004 e levou muitos anos de discussão com a comunidade e de compreensão do bem cultural até que se pudesse descrever esse bem”, conta TT Catalão.
Segundo o diretor do Iphan, a Tava também é considerada um lugar de referência por ser um espaço vivo que articula concepções relativas ao bem-viver, integra narrativas sobre a trajetória dos guaranis-mbyás e é diariamente vivenciada como lugar de atividades diversas e de aprendizado para os jovens. O valor patrimonial reside na capacidade de comunicar temporalidades, espacialidades, identidades e elementos da cultura indígena cravada na história brasileira.
Outras ações
Durante o encerramento do encontro Brasil Indígena, o ministro Juca Ferreira deu posse ao novo Colegiado Setorial de Culturas dos Povos Indígenas, eleito na última sexta-feira (14/8). Esse é o primeiro Colegiado Setorial que integra a nova gestão do Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), principal órgão colegiado do Ministério da Cultura, composto por integrantes da sociedade civil e das três instâncias do Poder Público (federal, estadual e municipal).
Ainda no sábado, Juca Ferreira participou do lançamento do catálogo “Brasil Indígena: História, Saberes e Ações”, elaborado por pesquisadores do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP). A publicação inspirou a realização do Encontro Brasil Indígena e contém 638 projetos, apresentados por comunidades e organizações indígenas, que incluem temas como saúde, alimentação, terra e expressões artísticas.
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Imagem: Tava Miri é considerada sagrada pelos índios da etnia guarani-mbyá (Foto: Daniele Pires)