por Arísia Barros
Preta Gil, filha de Gilberto Gil que já foi ministro da cultura não faz parte da grande maioria do povo de pele preta que diariamente equilibra-se na corda bamba da sobrevivência, estreitando-se entre o vil metal para comprar o pão ou ir ao cinema. Preta Gil é mulher de pele preta, mas tem padrão de vida econômica muito bom, diferentemente da ampla maioria minorizada, e assume lugares de poder no hit socaite, portanto, não é pobre.
Joaquim Barbosa é ministro do Supremo Tribunal da Justiça que ascendeu socialmente, ocupando hoje poderes constituídos na hierarquia da política brasileira. Joaquim Barbosa é bem mais do que um “ilustre ministro moreno escuro”, como nomeou-o o deputado federal Júlio Campos (DEM-MT) .
Neymar, o jogador que um dia afirmou que não sofria racismo porque “não era negro” mesmo aquinhoado com um altíssimo padrão de renda, sentiu na pele a realidade nua e crua do apartheid social para quem traz na história a descendência africana, mesmo “não parecendo negro”.
O menino de poucos mais de 10 anos recebeu a voz de prisão da lei : “teja preso”. Foi acusado de ter roubado uns pacotes de biscoitos porque sua pele preta trazia a história de suspeição. O menino foi preso por ter nascido com a pele errada nas terras de Cabral, onde ser branco é privilégio, como um salvo conduto para a honestidade. Após uma análise mais acurada dos senhores da lei confirmou-se o que o menino dizia: ele possuía a nota de pagamento dos objetos que portava.
O racismo é um camaleão poliglota. Fala em diferentes línguas, investe em verbos tirânicos como subestimar, inferiorizar, subalternizar, etc,etc,etc e não respeita classe social.
Ainda vivemos em um enorme navio negreiro, como subpopulação, afirmando o poder repressivo do estado que se utiliza da ideologia da idílica miscigenação para desafricanizar o que temos de Áfricas.
Vivemos, ainda, submetidos aos porões da história e sujeitos a perda da legitimidade de apenas ser.
O estado não nos quer protagonistas da história. Ainda somos escravizados.
Escravizados pelos paradigmas patológicos do mundo de verdades verdadeiras. Um mundo midiático da-boa-aparência, como modelo contemporâneo do racismo.
Tons e tragédias no país da mestiçagem. Quem sabe dá até samba!
As cotas raciais nas Universidades brasileiras, segundo a logicidade quase coletiva, geram quebra dos princípios constitucionais, mas os discursos racistas são naturalizados como liberdade de expressão.
As terras de Cabral, descobertas lá pelos idos de 1500, digladiam entre o princípio da lacaidade e as raízes conservadoras de homens quase todos brancos, que expulsam dos territórios de poder, o povo de pele preta, ou não,que bate tambor e tem conversas rasgadas com Olorum, o grande.
Dá licença. Tenho orgulho da minha pele preta!
O parlamento brasileiro está contaminado , por um conjunto de políticos, que traz como imperativo a burocrata resistência estrutural a ascensão de negros nos espaços de poder.
E diante de tantas e tamanhas ‘episódicas” demonstrações de racismo buscamos dialogar com os fatos e propomos colocar idéias em circulação: o Brasil é um país racista ou o povo de pele preta só é discriminado porque é pobre?
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