Represa de Sobradinho, na Bahia, atinge pior nível da história, revelando proporção da crise que obriga Três Marias a manter altas vazões e se alastra até a nascente. 70% dos pequenos afluentes sumiram
Guilherme Paranaiba , Luiz Ribeiro – Estado de Minas
A situação alarmante da represa de Sobradinho, na Bahia, que atingiu na segunda-feira 4,96% de seu volume útil, o menor índice da história desde a inauguração, em 1979, chama a atenção para o quadro crítico da Bacia do Rio São Francisco. Em Minas Gerais, estado que fornece cerca de 72% dos recursos hídricos do Velho Chico, o drama da falta de água se espalha da nascente até a divisa com o território baiano. Importantes tributários tiveram drástica redução de volume e estima-se que, dos afluentes de menor porte, a maior parte esteja completamente seca ou intermitente, espalhando paisagens desoladoras por todo o estado. Ainda há o temor de que o reservatório de Três Marias, o maior em terras mineiras, atinja nível crítico, diante da grande diferença entre o volume que entra e o que vem saindo do lago.
A represa recebe hoje 60 metros cúbicos de água por segundo (m3/s), enquanto libera 500m3/s. A vazão é uma determinação da Agência Nacional de Águas (ANA) e, segundo a Cemig, operadora da Usina Hidrelétrica de Três Marias, tem como objetivo não prejudicar Sobradinho. Em reunião ontem, em Brasília, a ANA decidiu que esse volume, que se mantém desde 29 de setembro, vai continuar pelo menos até o fim do mês que vem. Atualmente, a represa está com 15% de seu volume total. Nova queda drástica do nível, como ocorreu no ano passado, pode comprometer ainda mais o processo de recarga nos próximos anos.
A secretária da Câmara Consultiva do Alto São Francisco e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Entorno da Represa de Três Marias, Silvia Freedman, sustenta que cerca de 70% dos riachos, ribeirões e córregos que brotam em Minas e deságuam no Rio São Francisco e nos maiores afluentes estão completamente secos ou apresentam grande intermitência. Como 72% da bacia é formada no estado, o secamento dos tributários se reflete diretamente em todo o rio, com repercussões como a observada em Sobradinho. Ontem, a ANA também definiu que a vazão mínima da represa baiana, hoje em 900m3/s, será prorrogada até o fim de novembro. Nova avaliação ocorrerá no mês que vem, mas já foi emitido alerta para a possibilidade de redução no volume liberado pelos reservatórios.
“Com o secamento das nascentes, os tributários do São Francisco não estão sendo alimentados e o rio, consequentemente, deixa de cumprir a função de fornecer água para as comunidades. A afluência chegou a níveis muitos baixos. Nunca se viu na história uma situação dessa gravidade”, alerta Silvia, lembrando que até grandes afluentes do Velho Chico em Minas ficaram ou ainda estão completamente secos, como os rios Jequitaí, Pacuí e Verde Grande, todos no Norte do Minas. O Rio Abaeté (Centro-Oeste), outro importante afluente, também tem vazão bastante reduzida.
AGRAVANTES
O secretário-executivo do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Maciel Oliveira, demonstra preocupação com os processos erosivos e com o desmatamento, comuns em território mineiro, principalmente pelo fato de Minas ser o estado considerado a caixa d’água do Velho Chico. “Se além deste período seco ainda tivermos um rio desprotegido, com certeza vamos ter problemas maiores. Sem a proteção dos locais de nascentes, por exemplo, não teremos como manter as áreas de produção da água”, afirma.
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Agricultor caminha pelo leito do Verde Grande, um dos principais afluentes da Bacia: até poços profundos, que costumavam resistir, já evaporaram (foto: Credito Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.
Estamos em plena época de mudanças climáticas induzidas pelas
atividades humanas. Aqui, no Brasil e sobre tudo no Nordeste, as
conseqüências de manejo errado e das práticas agressivas da parte das
empresas agro-capitalistas fazem com que o Nordeste torna deserto. Com
os pequenos agricultores familiares e as comunidades tradicionais
(indígenas, quilombolas, ribeirinhas) como principais vítimas. Neste
ensaio, estudo e dossiê analisamos a desertificação e indicamos suas
raízes, suas implicações e possíveis saídas.
Para ler na integra:
http://www.ardaga.net/web-content/PDFS/a-caatinga_em_breve_o_primeiro_deserto_brasileiro_feito_pelo_homem.pdf