Do G1 MS com informações da TV Morena
Militares do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Campo Grande viajaram, na manhã desta terça-feira (20), em carros do Exército, para a região de conflito por terra entre indígenas e fazendeiros em Antônio João, a 301 quilômetros da capital de Mato Grosso do Sul.
O objetivo do deslocamento, conforme a apuração da TV Morena, é cumprir mandado de reintegração de posse nas propriedades ainda ocupadas, que são vizinhas à terra indígena Ñanderu Marangatu. Cinco caminhões do exército saíram de Campo Grande por volta das 8h15 (de MS), com destino ao município, onde cinco fazendas foram ocupadas [sic] por indígenas no fim de agosto.
Uma semana depois da ocupação, o indígena guarani kaiowá Semião Fernandes Vilhalva, 24 anos, foi encontrado morto com marcas de tiro dentro de uma das propriedades. A morte chamou a atenção do escritório de Direitos Humanos da ONU, que ‘condenou’ o ocorrido.
A Justiça Federal determinou dois prazos para a reintegração de posse das áreas ocupadas [sic], o último venceu no dia 30 de setembro. Desde a ocupação por indígenas, apenas duas propriedades foram reintegradas pelas famílias, três continuam ocupadas. Não há informações sobre o dia da reintegração de posse*.
Equipes da TV Morena que estão no local do conflito presenciaram a chegada de representantes do Ministério Público Federal, carros da Força Nacional e um helicóptero na zona rural nesta manhã.
Ocupação e morte
O clima ficou tenso na região de Antônio João no fim de agosto, quando cerca de 80 indígenas ocuparam cinco fazendas vizinhas à Aldeia Campestre, às margens da MS-384. Durante retomada feita por fazendeiros, na semana seguinte, dois grupos entraram em confronto e Vilhalva foi encontrado morto perto de um córrego, dentro de uma das fazendas.
A tensão na região diminuiu a partir do dia 1º de setembro, quando o Exército começou a atuar na região, com barreiras e monitoramento em estradas que dão acesso às áreas em disputa.
De acordo com o tenente-coronel do Exército Marcelo Rocha Lima, comandante da região de Bela Vista, das cinco propriedades ocupadas [sic], as que continuam com indígenas são as fazendas Fronteira, Barra e Cedro. O Exército atua na região com poder de polícia, fazendo vistoria e revistas nas estradas.
Após a chegada do Exército, o G1 sobrevoou a região de helicóptero e foi até a fazenda Fronteira, uma das três propriedades rurais vizinhas à aldeia Campestre. No local, tropas do Exército e da Força Nacional montaram uma base.
Posse da terra
De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a terra indígena Ñande Ru Marangatu, em Antônio João, tem 9.317 hectares e já foi homologada, o que significa que tem limites materializados e georreferenciados, cuja demarcação administrativa foi homologada por decreto Presidencial.
A área é tradicionalmente ocupada pela etnia guarani kaiowá. De acordo com a Funai, as terras indígenas tradicionalmente ocupadas são garantidas pelo artigo 231 da Constituição Federal de 1988, que trata do direito originário dos povos indígenas, cujo processo de demarcação é disciplinado pelo Decreto nº 1775/96.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1999 o governo federal iniciou os trabalhos de identificação da terra indígena Ñanderu Marangatu e, em março de 2005, a área foi homologada com extensão de 9.241 hectares. Depois da homologação, comunidades kaiowá e guarani começaram processo de retomada da área, que estava ocupada por fazendas.
Conforme o Cimi, no mesmo ano, o então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim suspendeu, por intermédio de liminar, o decreto de homologação e a comunidade indígena foi retirada do local. Por conta da suspensão, a área indígena não pode ser registrada no Serviço de Patrimônio da União (SPU), que representa a última etapa do processo demarcatório.
Após 10 anos de espera por definição do governo federal, os guarani kaiowá retomaram, em agosto, as terras das fazendas Primavera, Fronteira, Cedro, Bananal e Barra, localizadas dentro da terra indígena Ñanderu Marangatu, segundo o Cimi.
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*Nota de Combate Racismo Ambiental: De acordo com informações da Aty Guasu, a ação deverá acontecer amanhã, 21 de outubro (leia aqui).
Imagem: Fazenda Fronteira, vizinha da aldeia Campestre (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS).