Jovem negro que passou para universidade escreveu post de apoio a estudantes que querem entrar na faculdade
Por Constança Rezende, no O Dia
Rio – O que era para ser uma mensagem de apoio aos vestibulandos que planejam cursar Medicina se transformou em uma chuva de preconceito e racismo de futuros médicos. O jovem Diogo Medeiros, de 24 anos, publicou na terça-feira uma mensagem no grupo Vestibulando de Medicina, compostos por jovens de todo o país, em que desejava sorte aos que vão fazer o Enem na próxima semana.
Diogo, que passou para o curso de Medicina da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, escreveu no post: “Não importa quem você é, apenas tenha a certeza que você pode ser quem deseja. Basta acreditar em seu potencial”, com uma foto em que aparecia com a camisa da universidade argentina.
Logo em seguida, o post recebeu uma série de comentários racistas como “ué, não sabia que negro podia ser médico, quem se arriscaria em uma consulta?”, “só porque o cara é feio e da cor de fita isolante ele não pode ser feliz?”, “Se não tivesse cota duvido que conseguiria” e “temos que acabar com o preconceito entre negros e humanos”. Alguns estudantes também publicaram mensagem de apoio. “Como futuros médicos vão atender pacientes sendo racistas?”, questionava outro.
Diogo afirmou que irá registrar queixa na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática. Diogo, que mora em Nova Iguaçu e estudou quatro anos para o vestibular, disse que já tinha passado por outras situações de preconceito antes, como pessoas atravessarem a rua achando que era um criminoso.
Porém, nunca uma tão escancarada como essa. “Até pouco tempo atrás era mais comum, mas em pleno seculo 21 ainda existir isso é absurdo. Estou muito constrangido”, disse. Depois da repercussão do post, o moderador do grupo apagou a mensagem de Diogo, alegando que daria trabalho apagar todas as mensagens de ódio e preconceito.
Sonho de ser médico
Órfão de pai e mãe e aluno de escolas públicas, Diogo sempre sonhou em cursar Medicina. Para isso, passou o final da adolescência se desdobrando entre os estudos e o trabalho como técnico de enfermagem, sua primeira formação.
Ele conta que a vontade de ser médico nasceu dala tristeza em ver sua mãe “morrendo no Sistema Único de Saúde”. “Um dia quero ter uma clínica para atender pessoas sem condições financeiras”, planeja.
Para o presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ, Marcelo Dias, que ofereceu assistência jurídica a Diogo, os ataques demonstram que o racismo no país ainda é muito forte.
“Existe uma parcela da população que não aceita os negros chegarem a espaços em que antes não eram vistos, como as universidades. Quando eles não estavam nesses espaços estava tudo certo, não incomodavam”, diz.