Vladimir Platonow – Repórter da Agência Brasil
Manifestantes realizaram ontem (1º) à noite um protesto, no centro do Rio, contra a iniciativa da prefeitura de extinguir 19 linhas de ônibus e encurtar outras dez, principalmente as que ligam bairros da zona norte à zona sul. Com isso, será necessário fazer baldeação no centro para seguir às praias.
Os ativistas se concentraram na Igreja da Candelária e seguiram até o prédio da Central do Brasil. Eles ocuparam duas faixas da Avenida Presidente Vargas, foram seguidos de perto pela Polícia Militar, mas não houve violência.
A professora Mariângela Ferreira carregava um cartaz onde estava escrito “Contra o apartheid social”. Ela classificou a medida como uma forma de racismo.
“O governo está querendo botar um cordão social para separar a população. A praia está na zona sul, mas ela é pública e é um direito de todos. Estão tirando nosso direito de ir e vir e favorecendo as empresas de ônibus, que bancam as campanhas políticas. Quem mais sofre é a juventude pobre e negra. É um processo claro de racismo e apartheid social”, protestou Mariângela.
A vendedora e poetisa Ana Carolina de Oliveira Lopes disse que a iniciativa de extinguir e reduzir o percusso das linhas de ônibus atingirá principalmente os trabalhadores do mercado informal, que não têm bilhete único, e os jovens pobres das favelas.
“É muito errado isso. Quem trabalha e precisa sair da zona norte para a zona sul vai dobrar o que tem de pagar em passagem. Eu não tenho bilhete único, pois meu trabalho não é de carteira assinada”, informou Ana Carolina, que vende seus poemas na praia.
Para o ativista político Vilmar Torres, outra questão preocupante é o desemprego de motoristas e cobradores que a mudança deverá acarretar, pois a prefeitura anunciou que um dos efeitos será a retirada de circulação de 700 ônibus das ruas. “Não podemos aceitar que seja cobrada uma passagem a mais dos trabalhadores e que coloquem em risco o emprego dos rodoviários.”
A prefeitura nega que o plano aumente a exclusão e a desigualdade e assegura que 80% dos passageiros já usam o bilhete único, que garante gratuidade, dentro do período de 2h30min, no uso de dois transportes.
De acordo com a prefeitura, o objetivo é racionalizar o serviço de transporte, já que, atualmente, 64% das linhas de ônibus se sobrepõem em 80% dos trajetos. Para a prefeitura, a retirada de ônibus das ruas objetiva aumentar a velocidade nos corredores e diminuir a poluição atmosférica.
A primeira etapa do plano de racionalização da frota de ônibus da zona sul da cidade do Rio de Janeiro começa a ser implantada sábado (3). Serão extintas 11 linhas, que cobrem itinerários entre a zona oeste e o centro, e criadas cinco, sendo quatro da zona oeste até a zona sul e uma da zona sul até o centro.
Ao todo, foram analisadas 124 linhas de ônibus e a prefeitura decidiu criar 16 linhas, modificar 41, manter 13 e extinguir 70, afetando 800 mil passageiros por dia. A segunda etapa das mudanças, envolvendo as linhas da zona norte, ocorrerá dia 24 de outubro e a última em 5 de dezembro. A segunda fase, eixo Jardim Botânico-Botafogo, será implementada de janeiro a abril de 2016.
A linha 474 (Jacaré-Jardim de Alah), ligando a comunidade do Jacaré-Jacarezinho, na zona norte, à orla da zona sul, está entre as que serão extintas. Ela também é um dos principais alvos da polícia nas revistas dos ônibus que seguem para as praias.
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Foto: Manifestantes fazem passeata no centro do Rio contra corte das linhas de ônibus do transporte municipal a partir de 3 de outubro –