Comissão Guarani Yvyrupa (CGY)
De volta ao Brasil, Elizeu Lopes concederá uma entrevista coletiva amanhã (3/10), às 9h, na sede do Instituto Socioambiental, em São Paulo, para falar dos ataques de fazendeiros contra comunidades indígenas e o encaminhamento de denúncias às organizações e aos organismos internacionais.
Entre agosto e setembro deste ano, aconteceram mais de dez ataques paramilitares contra o povo Guarani-Kaiowá das Terras Indígenas Ñanderú Marangatú, Guyra Kamby’i (TI Panambi-Lagoa Rica), Pyelito Kue (TI Iguatemipegua I) e Potreiro Guasu, no cone sul de Mato Grosso do Sul. Protagonizados por fazendeiros organizados em milícias armadas, os ataques resultaram no assassinato do líder Guarani-Kaiowá Semião Vilhalva, três indígenas foram baleados por arma de fogo, vários foram feridos por balas de borracha e dezenas de indígenas foram espancados. São fortes também os indícios de que indígenas sofreram torturas e há denúncias da ocorrência de um estupro coletivo contra uma mulher Guarani-Kaiowá.
Para denunciar a intensa violência a que seu povo tem sido submetido, o líder indígena Guarani-Kaiowá Elizeu Lopes esteve em viagem pela Europa nas duas últimas semanas e agora chega a São Paulo. O povo Guarani-Kaiowá recorre ao pedido de apoio não apenas para apresentar a violência cometida por latifundiários, mas também para que as entidades internacionais cobrem do Estado brasileiro o direito dos povos indígenas aos seus territórios.
Ao passar por Suíça, Alemanha, Bélgica e Itália, Elizeu encontrou-se com ativistas de entidades de defesa dos direitos humanos, com diversas equipes das relatorias especiais da Organização das Nações Unidas (ONU), inclusive a que trata dos direitos dos povos indígenas, com cleros do núncio Papal do Vaticano e com deputados do parlamento europeu, incluindo a vice-presidente do parlamento, Ulrike Lunacek.
Nos últimos 15 anos, ao menos 707 indígenas cometeram suicídio e, entre 2003 e 2014, 390 indígenas foram assassinados no Mato Grosso do Sul. O estado tem 23 milhões de bovinos que ocupam aproximadamente 23 milhões de hectares de terra. Enquanto isso, com os procedimentos de demarcação paralisados, os cerca de 45 mil Guarani-Kaiowá continuam espremidos em apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais.
Esta não é a primeira vez este ano que os Guarani-Kaiowá apresentam suas denúncias aos organismos internacionais. Em abril, Elizeu Lopes participou com outras lideranças da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), do Fórum Permanente para Questões Indígenas da Organização da ONU, em Nova Iorque (EUA), onde discursou sobre as violências dos fazendeiros e o descaso do Estado. “Na região em que vivo, de 2003 a 2013 houve pelo menos 150 conflitos entre meu povo e fazendeiros da região. Neste período tivemos pelo menos 15 grandes lideranças assassinadas, a maior quantidade do país, cujos inquéritos policiais não resultaram em nada”
Vítima de constantes ameaças de morte, o líder Guarani-Kaiowá esteve também em julho no Encontro Mundial de Movimento Populares em La Paz, na Bolívia, onde se encontrou pessoalmente com o papa Francisco. “Ele me recebeu com um sorriso, estendeu a mão e me escutou, coisa que a presidente (Dilma Rousseff) e os governantes brasileiros, mesmo sabendo de nossa situação, nunca fizeram e se negam a fazer. Eu pedi a ele que interceda por nós, que ajude a fazer o governo brasileiro cumprir a Constituição e demarcar nossos territórios, que o próprio poder Executivo paralisou”, ressaltou Elizeu na oportunidade.
A coletiva é promovida por uma articulação de pesquisadores, advogados e jornalistas e tem o apoio da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e do Instituto Socioambiental (ISA).
Serviço:
O que | Coletiva de imprensa de Elizeu Lopes Guarani-Kaiowá
Quando | 3/10/15, sábado, às 9h
Onde | Instituto Socioambiental (ISA), Av. Higienópolis, 901, sala 30, São Paulo (SP)
Atenderá a imprensa das 10h às 13h