O ataque contra os Guarani Kaiowá foi organizado na sede do sindicato dos ruralistas do município de Antônio João (MS) e resultou no assassinato do líder Simião Vilhalva
Por Cristiano Navarro, em Le Monde Diplomatique
Hoje [Ontem] pela manhã, um grupo de fazendeiros reuniu-se no sindicato rural na cidade de Antônio João (MS), fronteira com Paraguai, e decidiu realizar um ataque contra a comunidade indígena de Nhanderu Marangatu.
Segundo informações do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), dezenas de homens armados saíram da sede da representação ruralista em cerca de 40 caminhonetes para expulsar as famílias indígenas que ocupavam a Fazenda Barra. Dezenas de pessoas ficaram feridas e, até o momento, está confirmada a morte do líder Simião Vilhalva.
A reunião no sindicato ruralista foi organizada pela fazendeira Roseli Maria Ruiz e contou com a presença do senador Waldemir Moka (PMDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e a Deputada Tereza Cristina (PSB).
Em uma ação sem qualquer respaldo legal, o ataque ocorreu depois de uma série de boatos espalhados com a informação de que os Kaiowá haviam incendiado propriedades rurais e que invadiriam o município. Um dos mais ativos na campanha de difamação, o ruralista e ex-deputado federal Pedro Pedrossian Filho, usou imagens de um incêndio ocorrido dia 24 deste mês na cidade de Capitán Meza, Paraguai, para reforçar a mentira. (veja AQUI)
A história esdrúxula tem como base a notícia publicada neste link.
Apesar de Nhanderu Marangatu ser uma terra reconhecida pelo Estado, com seu processo de demarcação concluído desde setembro de 2005, as famílias Guarani Kaiowá aguardam por uma decisão do Supremo Tribunal Federal para ocuparem suas terras em definitivo. Nesta angustiante década de espera, lideranças foram assassinadas e seguem comuns as mortes de crianças por desnutrição.
“O que ocorreu hoje é resultado da impunidade, da negligência do Governo Federal e do aparelhamento das forças de segurança do estado de Mato Grosso do Sul pelo agronegócio. Em qual estado democrático de direito, deputados, vereadores e ruralistas sentem-se no direitos de se armar e atacar comunidades indefesas? Isso é covardia. O ataque de hoje parece ter revelado também um modus operandi, os produtores se reúnem em sindicatos, com participação das forças de segurança e depois atacam as comunidades. Foi assim, em Ypoi, Guayviry, Kurusu Amba recentemente e hoje em Ñande Ru Maranguatú”, critíca Flávio Vicente coordenador do Conselho Indigenista Missionário no Mato Grosso do Sul
Recentemente, um outro atentado idêntico ocorreu contra a comunidade Kurusu Amba. No dia 24 de junho deste ano, dezenas de ruralista também armados atacaram famílias Guarani Kaiowá incendiando e expulsando-as de suas casas.
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Cristiano Navarro é editor web do Le Monde Diplomatique Brasil.
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Diogo Rocha.