Por Renato Santana, no Cimi
O fazendeiro e ex-deputado federal Pedro Pedrossian Filho postou nesta quinta-feira, 27, em seu próprio perfil de uma rede social, fotos de um celeiro e de maquinários carbonizados afirmando que as imagens retratavam destruição feita por indígenas depois de invasão a uma propriedade. Em matéria publicada pelo portal paraguaio ‘Itapuá en Noticias’, as fotos utilizadas por Pedrossian eram – na verdade – de um incêndio ocorrido no último dia 24 e causado por curto-circuito em uma fazenda de Capitán Meza I, distrito paraguaio – leia aqui.
Em texto que acompanha a postagem das fotos, Pedrossian, além de tentar manipular a opinião pública, incita publicamente fazendeiros a ações violentas e clandestinas ao Estado contra os indígenas. “Não basta invadir, tem que destruir! Eu não quero comentar mais sobre isso pq todos já sabem a minha opinião e a partir da minha decisão é que nenhum índio vagabundo quis roubar minha propriedade. Agora se a decisão de vocês é esperar pelo Estado inexistente, o resultado é o previsto… O nosso país se chama Brasil (sic)”, escreveu o ex-parlamentar.
Até às 20h40 desta sexta-feira, 28, as fotos e o texto tinham 1.516 compartilhamentos e 70 comentários de cunho racista e de incitação ao assassinato e violências diversas contra os indígenas. As declarações, até às 20h40, permaneciam no perfil de Pedrossian Filho. Vítimas da mentira do ruralista, dezenas de comentários alimentaram e expressaram ódio com o uso de termos preconceituosos: “Tiro, bomba e porrada nesses vagabundos”, “tem que contratar um “Funcionário” para eliminar esses índios inútil (sic)”, “bala neles”, “tem que chegar o pau na bugrada”, “devemos defender (fazendas) com unhas, dentes e armas se for necessário”.
Integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram alvos de ameaças de espancamento e xingamentos da turba virtual: “Os verdadeiros inimigos são o pessoal do Cimi e da Funai esses sim que merecem uma tunda de pau bem dada, mas pensa numa tunda bem dada (sic)”.
A postagem de Pedrossian com a farsa do ataque dos indígenas foi associada, tanto por cidadãos sul-mato-grossenses quanto pela imprensa, às retomadas Guarani e Kaiowá de Ñanderu Marangatu, em Antônio João, e, em outras leituras, ao povo Terena da Terra Indígena Cachoeirinha, de Miranda, onde Pedrossian possui uma fazenda incidente no território Terena – conforme denúncias veiculadas pela imprensa, os indígenas foram expulsos a tiros de grosso calibre, no ano passado. Os municípios de Miranda e Antônio João estão separados por 290 quilômetros e tampouco estão próximos da fazenda paraguaia vitimada pelo curto-circuito.
O episódio se soma a outros, ocorridos durante essa semana, envolvendo mentiras, boatos e calúnias perpetradas pelos ruralistas do Mato Grosso do Sul contra os povos indígenas. De acordo com servidores da Funai, tais informações inverídicas e incitações ao ódio contra os indígenas representam uma estratégia lamentável e perigosa de colocar a sociedade contra os Guarani e Kaiowá. Um dos resultados já é sentido: os fazendeiros mantêm a estrada de acesso do tekoha – lugar onde se é – Ñanderu Marangatu ao município de Antônio João bloqueada, causando escassez de alimentos aos indígenas e cerceando o direito de ir e vir da comunidade.