O apoio do governador Luiz Fernando Pezão ao racismo institucional perpetua uma prática condenável
Na CartaCapital
O racismo, mal que afeta as relações sociais e produz sofrimento às suas vítimas, apresenta-se muitas vezes implícito, disfarçado, não assumido, mas, ao mesmo tempo, com uma força performativa que vai muito além do episódio específico em que se manifesta. De todas as faces do racismo com as quais convivemos, as piores não se expressam na prática individual, no ato pessoal equivocado, por estupidez, ignorância ou má fé: as formas mais graves de racismo são praticadas institucionalmente.
O que aconteceu nesses dias com os ônibus que levavam pessoas do subúrbio para as praias da zona sul não é algo inédito. Que a polícia detenha veículos de transporte público vindos da zona norte ou de outras regiões mais pobres do Rio e retire deles os jovens que estão indo curtir a praia (jovens pobres, moradores das periferias, em sua maioria negros) faz parte do cotidiano da cidade e do estado há tempos.
Acontece o tempo todo. Como acontece de blitz da polícia deter vans que circulam no subúrbio e jovens negros serem obrigados a descer e a se submeter a revistas enquanto os brancos aguardam sentados e acomodados.
A polícia é treinada para identificar uma procedência social, uma cor e um lugar de moradia como indícios de algum crime possível e futuro. De acordo com esse procedimento, pobre, negro, favelado ou suburbano deve ser tratado com bandido em potencial. É assim que a banda toca e o bonde segue, infelizmente e para nossa indignação.
Isso não é novo, mas, por isso, deve ser denunciado e combatido. Por isso, “excelentíssimo” governador Pezão, sua aprovação desse procedimento imoral e criminoso soma ao ato de racismo institucional da PM uma gravidade política e social gigantesca.
Como pode o governador do estado dizer publicamente que tudo isso está certo?
Como autoridade máxima do estado do Rio de Janeiro, o senhor manifestou sua aprovação a práticas eivadas de racismo institucional, esse que vitima milhares, humilha, segrega; criminaliza, expulsa, estigmatiza e que mata.
Quando o senhor usa sua voz pública para apoiar, em declarações à imprensa, essas práticas de agentes da Polícia Militar, está garantindo que continuem, porque seus executores sentirão que têm seu amparo e proteção.
É gravíssimo, governador Pezão.
A praia não é propriedade dos moradores da zona sul. Não é propriedade de uma classe social. Não é propriedade de quem tem a mesma cor do senhor.
Racismo é crime, governador, mesmo quando disfarçado de política de segurança.
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Foto: Ipanema e Leblon: a praia não tem dono. Ou tem?