Acadêmico é Guarani-Kaiwoá e quer ajudar no sistema de saneamento básico das aldeias
Por Rogério Vidmantas , no Capital News
O acadêmico Zenaldo Moreira Martins fez a defesa da sua monografia nesta sexta-feira na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) em Dourados, faltando agora apenas a colação de grau para ser oficialmente graduado em Engenharia Ambiental. O fato ganha ainda mais importância por Zenildo ser o primeiro indígena do Estado a conseguir o título.
Após os cumprimentos da banca, Zenildo falou sobre a importância dessa conquista para a comunidade que representa. “Ser o primeiro guarani kaiwoá formado em Engenharia Ambiental em MS é uma grande responsabilidade. Devo isso a minha comunidade e ao Rede Saberes da UEMS, que me deu a base quando cheguei na Universidade, foi essencial na minha formação”, relata o estudante referindo-se ao projeto que estimula a permanência de estudantes indígenas na Universidade.
Assim como grande parte dos indígenas que chegam ao nível superior, a trajetória de Zenaldo foi repleta de desafios. Segundo ele, a dificuldade financeira para se manter longe de casa foi um dos principais obstáculos, além da adaptação cultural que já é, por si só, um grande desafio. Seu orientador na graduação, o professor Agnaldo Lenine, lembra da evolução do estudante do momento em que ele ingressou no curso até a apresentação do trabalho final. “Ele teve muita dificuldade de adaptação, mas sempre demonstrou muita força de vontade. Nós vemos pessoas que têm muitas oportunidades, mas não aproveitam, o Zenaldo teve poucas, mas com muito empenho hoje vive essa grande conquista”, diz.
Prestes a concluir sua formação cuja etapa final será a colação de grau, Zenaldo não tem dúvidas sobre que rumo dará a sua carreira: “Quero ajudar minha comunidade, para isso pretendo trabalhar na parte de saneamento básico da aldeia que ainda é muito precária”, diz ele.
Combate à evasão
Além do Rede de Saberes, UEMS e Governo do Estado contam com ações de apoio à permanência para evitar a evasão desses estudantes da graduação. Os indígenas matriculados na UEMS podem concorrer a uma bolsa do Programa Vale Universidade Indígena, vinculado a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho. A instituição conta ainda com programas próprios de assistência estudantil, como auxílio alimentação, auxílio moradia e bolsa permanência, disponíveis para acadêmicos de baixa renda, além das bolsas de iniciação científica, iniciação à docência, monitoria, entre outras.
A UEMS é única universidade brasileira com reserva de vagas para indígenas em todos os cursos de graduação. Para o professor Aguinaldo Lenine, essa é uma vitória para Instituição. “Eu, como universidade, não chego fisicamente até a comunidade indígena, mas o Zenaldo poderá levar os conhecimentos aqui adquiridos e mudar a realidade da sua aldeia”, explica ele.