Quase 500 animais morrem atropelados em Reserva Indígena, ninguém faz nada

Quase 500 animais morrem atropelados por ano num trecho de 125 quilômetros da rodovia BR 174, que corta a Reserva Indígena Waimiri Atroari.

Luana Carvalho, A Crítica

Quase 500 animais morrem atropelados por ano num trecho de 125 quilômetros da rodovia BR 174, que corta a Reserva Indígena Waimiri Atroari. Em 18 anos, 8,6 mil bichos morreram atropelados. Os números são contabilizados pelos índios desde 1997. Mas, há um ano, o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEEE) criou uma nova ferramenta para que novos casos possam ser registrados em todas as rodovias brasileiras por meio do aplicativo ‘Urubu Mobile’.

No ano passado, mais de 475 milhões de animais morreram atropelados nas rodovias que cortam o País. Foram 400 milhões de sapos, pequenas aves, cobras e outros animais de pequeno porte; e mais 75 milhões de animais de médio e grande porte, como onças, lobos-guará, capivaras, preguiças, antas, tamanduás e macacos.

Na Reserva Waimiri Atroari, 69 bichos morreram em junho deste ano, entre eles, uma onça pintada. Os casos são registrados pelos índios e ainda não integram o Sistema Urubu. Porém, estima-se que os atropelamentos sejam ainda mais constantes longo da estrada, conforme explica o coordenador do Programa Waimiri Atroari, Marcelo Cavalcante.

“O trecho que compreende a reserva é todo monitorado e sinalizado, mas ainda assim, são centenas de mortes. É muito triste, pois se não existisse as restrições de tráfego de veículos na reserva, os animais morreriam muito mais. Exatamente como acontece ao longo da rodovia”.

E foi para ter uma dimensão exata do problema que o CBEEE recorreu à tecnologia. O sistema de dados ainda é pouco conhecido na região Norte. Apenas 2% dos usuários são do Amazonas e, por serem poucos usuários, apenas 25 animais mortos por atropelamento foram registrados no ‘Urubu Mobile’ no Estado.

“Temos certeza de que o índice de atropelamento no Amazonas é muito grande e por isso é importante que tenhamos mais usuários para registrar esses dados reais, ajudando a divulgar este trabalho”, ressalta o coordenador do CBEEE, Alex Bager.

Os números de mortes registrados no sistema poderão servir de parâmetro para a aprovação de projeto de lei que pretende reduzir impactos à biodiversidade brasileira. O PL 466/2015 dispõe sobre a adoção de medidas que assegurem a circulação segura de animais silvestres no território nacional, com a redução de acidentes envolvendo pessoas e animais nas estradas, rodovias e ferrovias brasileiras.

“Percebemos que todos os trabalhos de monitoramento feitos no Brasil eram de pequena escala. A maioria são de 50 a 100 quilômetros de rodovia. São trabalhos importantes, mas que resolvem problemas daqueles trechos. A gente desconhece esse impacto em nível de Brasil, por isso criamos o aplicativo onde cada motorista pode colaborar para reunir esses dados e sensibilizar o Governo Federal”.

No Amazonas, entre os animais que mais morrem, estão as cutias, cobras, macaco sagui, pacas, mucuras, tamanduás, jacarés, jacuraru, e eira barbara (irara). A proposta da rede é que qualquer pessoa possa colaborar com a conservação da biodiversidade encaminhando registros de animais atropelados para influenciar políticas públicas. Todos os registros são monitorados.

Medidas

A paciência e atenção redobrada em certos trechos das rodovias são boas opções para evitar atropelamentos e acidentes. Os governos e concessionárias também podem ajudar a diminuir os índices adotando medidas como passarelas com vegetação e túneis subterrâneos. Instalação de sonorizadores, lombadas, radares e placas informativas também são soluções.

Maior rede social de conservação

O Sistema Urubu é uma das maiores redes sociais de conservação de biodiversidade do Brasil. O banco de dados existente é 100% avaliado por pesquisadores e especialistas em identificação de espécies.

Qualquer pessoa com um smartphone ou tablet com sistema Android ou iOS, com câmera e GPS pode utilizar. O aplicativo é gratuito e está disponível para download no Google Play e na App Store.

O ‘Urubu Mobile’ coleta os dados, a plataforma ‘Urubu Web’ faz a gestão de dados e o ‘Urubu Map’ fica disponível para que os usuários vejam as informações no mapa. Os dados enviados serão utilizados para propor políticas públicas que protejam a biodiversidade e as pessoas. O nome foi idealizado por causa da espécie carniceira que possui uma grande habilidade em localizar os animais selvagens atropelados.

Em números

475 milhões é o total de animais silvestres que morrem atropelados por ano nas rodovias brasileiras. São 15 atropelamentos por segundo. A maior parte são animais pequenos. Os bichos de médio e grande porte atropelados somam um número de 75 milhões mortes de animais.

O usuário Jackson Pantoja Lima registrou a morte de preguiça real na BR-174.(Divulgação/Urubu Mobile)

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