Manifestações do dia 20 podem ampliar diálogo de movimento social com população

“Temos uma Câmara de Deputados reacionária, homofóbica e fundamentalista, que tenta reduzir a maioridade penal, mas os meios de comunicação estão focados sempre na Lava Jato”, diz ativista

Por Eduardo Maretti
Da RBA / MST

Ao contrário de manifestações contra o governo Dilma Rousseff, como a que ocorreu em 15 de março e a que será realizada no próximo domingo (16), com forte apoio da mídia, atos políticos da sociedade civil estão longe de ter destaque nos meios de comunicação. Para militantes e ativistas, se o ódio ao PT e o clima de impeachment artificialmente criado a partir da crise decorrem também da parcialidade da mídia, a mobilização para o dia 20, em defesa da democracia, podem significar a ampliação do diálogo com a sociedade.

“O dia 20 vai significar para a gente, não um divisor de águas, mas talvez a ampliação de um diálogo melhor com a população, que ainda está bastante perdida, confusa, por ter a versão só de um lado, e muitas vezes de forma distorcida”, avalia Rosina Conceição, da União Brasileira de Mulheres (UBM). “Acho que temos uma mídia hoje que está jogando um papel muito ruim no sentido de diálogo com a sociedade.”

A constatação não é mera retórica política de grupos em busca de espaço político. É um fato verificado por instituições insuspeitas. Em debate promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) na segunda-feira, no Sindicato dos Jornalistas no Rio de Janeiro, por exemplo, o diretor do Centro de Informação da ONU no Brasil, Giancarlo Summa, sugeriu que no Brasil não há liberdade de expressão democrática. “A liberdade de expressão é um direito humano e não significa somente ausência de censura, mas também a diversidade de ideias e jornalistas trabalhando sem ameaças econômicas ou, até mesmo, contra sua integridade física.”

“A América Latina tem alguns pontos incomuns. De forma geral, a mídia é muito concentrada na mão de poucas empresas, o que não é bom para a democracia”, disse à repórter Marina Vianna, da TVT. No Brasil, seis famílias controlam 90% de toda a receita publicitária pública e privada dos meios de comunicação.

“Na atual conjuntura, a mídia está sinalizando que há uma crise no Brasil. Nós não temos ainda o significado dessa crise. Sabemos que a população e os trabalhadores não estão de acordo com medidas que o governo federal implementou. No entanto, temos uma Câmara de Deputados reacionária, homofóbica e fundamentalista, que tenta reduzir a maioridade penal, por exemplo, mas eles (os meios de comunicação) estão focados sempre na Lava Jato. E em criminalizar o PT e o governo da presidenta Dilma”, lembra Sandra Mariano, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).

Para ela, um dos principais significados das manifestações do dia 20 é que “a população vai para a rua e falar ‘não concordamos com o que a mídia está fazendo’”. Um dos recados da data será “reforçar que temos uma presidenta que foi eleita pela maioria da população brasileira e ela vai governar até o final”, diz.

Uma das principais críticas de entidades civis, como o coletivo Intervozes, aos governos petistas desde os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) é a falta da “vontade política” que impediu a regulamentação dos meios de comunicação, prevista na Constituição de 1988. O parágrafo 5° do artigo 220 prevê que “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.

Cinco anos e meio depois de encerrada a Conferência Nacional de Comunicações (Confecom), em dezembro de 2009, e 27 anos após a promulgação da Constituição, a mídia continua oligopolizada e antidemocrática, e os efeitos disso todos conhecem.

Enquanto isso, boa parte dos ativistas aposta na internet como alternativa. “Para nós, a internet é um instrumento  fundamental, pelo papel que tem na vida das pessoas e pela autonomia que a gente tem na internet”, disse Sarah de Roure, da Marcha Mundial das Mulheres.

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