IV Marcha dos povos indígenas de Roraima reúne mais de dois mil indígenas em Boa Vista

Mayra Wapichana, CIR

Para reafirmar a garantia dos direitos indígenas já conquistados na Constituição Federal de 1988 e reivindicar o cumprimento, povos indígenas de Roraima e o movimento social, se reuniram em grande manifestação na manhã desta segunda-feira, 10, nas ruas central da capital roraimense, Boa Vista, para protestar e repudiar as ameaças e violações de direito cometidas pelo Governo de Roraima, principalmente violação contra o direito à educação escolar indígena.

Participam da mobilização, coordenadores regionais, tuxauas, professores, estudantes, mulheres, crianças e demais lideranças indígenas, assim como estudantes e professores não indígenas da rede estadual de educação.

A IV Marcha dos Povos Indígenas de Roraima, movimento alusivo ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no dia 9 de agosto, iniciou pela manhã juntamente com a programação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Roraima (SINTERR) que deflagrou greve na rede estadual de ensino. O evento iniciou com a apresentação cultural, com cantos e danças tradicionais, apresentado pelos alunos indígenas oriundos de diversas comunidades indígenas do Estado.

Em seguida, a Marcha percorreu as ruas centrais de Boa Vista e tendo como destino a sede da Secretaria Estadual de Educação Cultura e Deporto (SECD), na tentativa de ao menos protocolar documento. No entanto, mais uma vez, a Secretária Selma Mulinari desrespeitou o movimento indígena e o movimento social, não recebendo nenhum representante indígena e nem do Sindicato. O portão permaneceu fechado à base de segurança reforçada.

O movimento reivindica a EXONERAÇÃO da Secretária de Educação, Selma Mulinari, pelo descaso que se encontra o ensino público local. Além disso, o  movimento indígena também reivindica o cumprimento do direito à educação diferenciada e de qualidade.

Após tentativa frustrada em frente à sede da Secretaria, o movimento retornou para a praça do centro cívico, chegando até o Palácio do Governo. Os coordenadores das organizações indígenas, Conselho Indígena de Roraima(CIR), Organização das Mulheres Indígenas de Roraima(OMIRR) e Organização dos Professores Indígenas de Roraima(OPIRR) protocolaram o documento e Manifesto da IV Marcha.

A programação segue pela tarde, onde acontece às 15h a Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Estado de Roraima.

A Audiência será específica para discutir a Educação Escolar Indígena do Estado de Roraima, gravemente ameaçada, quando desta vez, o Governo retirou o capítulo que trata da educação escolar indígena do Plano de Estadual de Educação. A tentativa junto ao legislativo é sensibilização de não votação do plano, sem as propostas que contempla a modalidade específica e diferenciada. Caso contrário, serão prejudicados mais de três mil alunos indígenas de 265 escolas estaduais indígenas.  Confira na íntegra o Manifesto da IV Marcha dos Povos Indígenas de Roraima protocolado no Palácio do Governo.

 Foto: Mayra Wapichana
Foto: Mayra Wapichana

MANIFESTO DA IV MARCHA DOS POVOS INDÍGENAS DE RORAIMAPELO DIA INTERNACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS

Nós Povos Indígenas de Roraima e suas organizações indígenas, com apoio e solidariedade do Movimento Social em Roraima, em reafirmação dos direitos dos Povos Indígenas e considerando a situação de vulnerabilidade e instabilidade dos direitos humanos dos povos indígenas, considerando o dia 09/08 o Dia Internacional dos Povos Indígenas, vimos expressar nossa indignação e cobrar a atenção e medidas necessárias das autoridades públicas para as seguintes situações:

1.   O Direito a Educação Escolar Indígena é um direito fundamental estabelecido pela Constituição Federal de 1988. A situação da Educação escolar indígena é precária, apesar de receber verbas públicas federais não tem construções de escolas e nem reformas, ou melhorias. A maioria das escolas indígenas são estruturas construídas pelas próprias comunidades e com recursos delas próprias. Agravado a isso, a Secretária Estadual de Educação excluiu toda Modalidade de Educação Indígena do Plano Estadual de Educação e enviou para Assembleia Legislativa para que fosse aprovado sem considerar os direitos indígenas e políticas especificas para a educação escolar indígena, excluindo o que já havia sido discutido previamente em 2013 com as lideranças indígenas; Assim reivindicamos: – Que Assembleia Legislativa inclua no Plano de Estadual de Educação a proposta discutida em 2013 que garante a Modalidade relativa a Educação Escolar Indígena; – Que apure se a Secretaria de Estadual de Educação age com discriminação institucional no atendimento as comunidades indígenas pela negação dos direitos constitucionais; – Que a Secretária Estadual de Educação seja substituída por uma Secretária que possa atender a todos com respeitos e sem discriminação por ser indígena.

2.   Os Projetos de Emendas Constitucionais 215, 227,e 071 colocam em risco a vida dos Povos Indígenas. São inconstitucionais e visam o interesse individual, econômico e politiqueiro. O Estado de Roraima deve aprender a trabalhar com a realidade local e adequar o plano de desenvolvimento a partir dos direitos indígenas. Por isso, pedimos a rejeição da PEC 215, 227 e 071;

3.   As terras indígenas infelizmente são vista somente com olhar de cobiça e da exploração devastadora. O exemplo disso é as invasões as terras indígenas constantes, e outras que ainda insistem em permanecer em nossas terras, como caso na TI Anaro, na regiao Amajari e TI Yanomami. Queremos que hajam celeridade para a retira das invasões da TI Yanomami e demais terras indígenas;

4.   Pacaraima e Uiramutã foram municípios criados para desestabilizar a demarcação das TI São Marcos e Raposa Serra do Sol. A sede de Pacaraima tem crescido e se alastrando para dentro das comunidades indígenas, provocando impactos negativos socioculturais, ambientais, econômicos. Queremos providencias para sanar tal ilegalidade e a reintegração de posse para as comunidades indígenas.

5.   Recentemente, políticos de Roraima investem em mais disputa sobre as terra indígenas propondo a criação de um Parque Nacional do Lavrado sobreposto a TI São Marcos, TI Santa Inês e TI Raposa Serra do Sol. Somos a criação de Unidade de Conservação dentro das terras indígenas porque temos o usufruto exclusivo permanente e cuidamos da biodiversidade e da terra a partir da relação de proteção ao meio ambiente que vivemos;

6.   Queremos maior atenção à saúde indígena porque esta vive em crise permanente, ameaçando a organização social e a cultura indígena. O governo deve garantir uma saúde de qualidade, com equipamentos, postos, medicamentos e profissionais devidamente capacitados, com prioridade para os profissionais indígenas das próprias comunidades, como agentes de saúde, microscopistas, técnicos de enfermagem, laboratório, e profissionais de nível superior. Que o CGU e Ministério Público analisem os recursos destinados ao DSEI-Leste e DSEI-Yanomami e recomendem medidas para melhoria.

7.   Que a Presidenta da República Dilma não negocie os direitos indígenas por acordos políticos e favorecidas ao agronegócio. As demarcação das terras indígenas devem ser priorizadas e concluídas para garantir a vida dos povos indígenas.

Abaixo assinamos

Boa Vista-RR, 10 de agosto de 2015.

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