“No dia seguinte da abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, foi marcada mais uma rodada de negociação das terras indígenas no Mato Grosso do Sul”, informa Egon Heck, Cimi- Secretariado. Eis o artigo
IHU On-Line – A pomba voou assustada com a presença de uma multidão de estranhos seres. Os humanos assustam! Esses riem, choram, gritam e matam. A pomba voa, canta, come e quer paz. As três pombas simbolizaram a paz negada na diferença de opressores e oprimidos. No país tropical sempre prevaleceu a lei do mais forte, da dominação. Os povos nativos foram quase extintos, pelas armas e epidemias. Os negros escravizados produziram a riqueza dos dominadores.
Werá Guarani, com a pomba soltou o grito e estendeu a faixa: “Demarcação Já”. O desejo de quase um milhão de índios estava em campo. O grito silencioso dos quilombolas também ecoou – “ regularizem nossas terras já! Dilma viu, mas ouviu outros gritos. As três inocentes pombas, mais uma vez trouxeram o desejo de uma paz negada de mais de cinco séculos. A paz dos indígenas, dos quilombolas, dos sem terra.
Justiça só com a vitória da demarcação
No dia seguinte da abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, foi marcada mais uma rodada de negociação das terras indígenas no Mato Grosso do Sul.
O diretor secretário da Famasul – Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul, Ruy Fachini, avaliou assim o encontro: “Houve avanço no processo de negociação, mas ainda são necessárias análises criteriosas sobre a avaliação da área em questão. Será necessário esforço conjunto para que o final seja satisfatório”, destacou o diretor da Famasul, após reunião no Ministério da Justiça. (Portal do Agronegócio, 13-06-14).
Na pauta, conforme a Famasul, está a questão da compra das terras pela Funai. O valor das 30 propriedades, cujos títulos incidem sobre a Terra Indígena Buriti, dos índios Terena, é de 130 milhões, segundo os fazendeiros. A Funai as avaliza em 78 milhões. O prazo para o governo federal apresentar solução definitiva era dia 6 de junho. Por essa e por outras razões os índios Terena e Guarani anunciaram sua retirada dessas mesas que consideram de “enrolação”. Será que querem de fato resolver essa gravíssima situação das terras indígenas no Mato Grosso do Sul? Se em dezenas de iniciativas anteriores ficou patente a disposição de não reconhecer as terras indígenas, será que vão resolver algo em tempos de copa do mundo e véspera de eleições?
Todos fifados
Mal começou mais uma Copa Mundial de Futebol e já se propala a grande vencedora – A FIFA. Com a sacola recheada de generosos dólares que nós brasileiros teremos que pagar. Os cartolas comemoram. Nós continuaremos torcendo e pagando as contas durante um bom tempo. Todos somos religiosamente enquadrados nas contas que vão sobrar. O sistema de saúde está caótico. O atendimento à saúde indígena nem se fala. A educação está mais para a submissão à vontade dos interesses políticos regionais, do que para uma educação diferenciada e de qualidade, conforme garante a Constituição.
Alguns meios de comunicação falam que a Fifa teria sido agraciada com números vultosos, como mais de 30 milhões, isenção de impostos… Outros se defendem dizendo tratar-se de discurso de oposição. Sejam quais forem os números o fato é que alguns estão faturando alto com essa copa e a maioria fica com o copo vazio e uma sensação de ter sido ludibriada. Quando a vida voltar ao normal, voltarão as notícias sobre o caos campeão na caótica situação no atendimento à saúde, a falta de escolas, as estradas um pouco mais esburacadas e as contas a pagar aumentadas acrescidas das dívidas acumuladas com a construção de estádios, ampliação e reformas em aeropostos e vias de acesso aos estádios.
Que o sonho não nos faça acordar com o grito contido de mais um pesadelo. Termino com um pequeno trecho de umas das crônicas que escrevi em 1998, na copa na França, muito atual “Todos os times já jogaram. Sabe-se o que o coração está na ponta da chuteira: garra, guerra, emoção, arte, alegria, simpatia…O mundo respira futebol. A mídia veicula uma anestesia global. Os problemas vão para uma espécie de nimbo onde aguardam o apito final da copa para novamente entrar em campo. A corrupção, a impunidade, as violências, a roubalheira e a safadagem andam com a maior desenvoltura como se juiz não houvesse. Até a fome, com jeitinho, é driblada.”
É preciso unificar a luta pela demarcação de todos os povos tradicionais deste pais.