Por Reginaldo Bispo
Irmãs, irmãos e amigos…
Às vésperas do III Conapir, cuja história todos conhecem (o I deliberou mais de 2.000 demandas não encaminhada até hoje; o II Teve apenas o papel de angariar a qualquer custo apoio para a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial), tenho a satisfação de colocar-lhes à mão esse texto com temática debatida por centenas de milhares de negras e negros por todo o Brasil, em palestras, debates, seminários, conferências, encontros e congressos do MN, há mais de 50 anos.
Construído por centenas de mãos, recuperado e organizado por um grupo de militantes históricos, que seguindo a máxima “Um povo que não conhece a sua historia e sua cultura jamais será um povo livre”, negando-se ignorar a historia desses debates, deliberações e acúmulos, que compõem um referencial histórico contemporâneo, desde os anos 1930, com a FNB, e especialmente a partir dos anos 1970, com o renascimento de um MN, de esquerda, internacionalista (o MNU, o IPCN).
Sobretudo pela consciência e a responsabilidade da necessidade da União, Autonomia e Independência da Organização do nosso povo, para lutar contra o Racismo e construir um Projeto Político de Nação Plurirracial e Multicultural, que contemple os negros, os indígenas e todos aqueles que foram marginalizados do projeto instaurado pela monarquia, depois, da república – em benefício exclusivo e para perpetuação dos privilégios dos herdeiros escravocratas e eurodescendentes, ignorando os demais seguimentos até os dias de hoje.
Trazemos uma perspectiva diferente da oficial e das elites (dos negros de partidos, limitados pelos programas, táticas e estratégias dos seus chefes e seus governos), abraçada pelos que tornaram-se petistas, pedetistas, psolistas, psdbistas, prbistas, ptbistas, psbistas, pcdobistas, pstuistas etc, antes de tornarem-se NEGROS.
Conveniências que além das dificuldades criadas à nossa luta, e mantido um antagonismo à unidade de negras e negros para conquistar a verdadeira igualdade racial, tem favorecido projetos que não são os nossos, e à manutenção do segregacionismo racista histórico das elites brancas brasileiras, das instituições e da mídia burguesa, em troca de míseros restos da farta mesa dos racistas.
A sangria em vidas com o extermínio de nossos filhos, sobrinhos e netos; o genocídio dos povos negros e indígenas, praticado com a conivência dos governos estaduais e federal, é o maior exemplo da insensibilidade e do FALTA de importância com que as instituições, as autoridades, os políticos, e porque não dizer da militância negra partidária e governista, tratam os infortúnios de nosso povo.
As dificuldades criadas pela direita parlamentar, pelos latifundiários e pelo agronegócio, apoiados pelo governo, contra a aplicação da legislação conquistada pelo MN e pelos povos originários na constituinte de 1988 e cunhadas na Constituição que garante a demarcação e titulação dos territórios quilombolas e indígenas, tem sido responsável pela insegurança, violência e genocídio no campo. O desconhecimento e a insensibilidade da “militância” negra, com essa realidade, tem favorecido o atraso na solução desses graves acontecimentos e perpetuado o infortúnio do nosso povo excluído nos rincões do Brasil.
Enquanto isso, os empresários, políticos, magistrados e altos funcionários, legislam e exercem suas funções em beneficio próprio, com ganhos muitas vezes superiores ao de qualquer político ou executivo das nações ricas, como EUA, Alemanha, França, Japão e Inglaterra.
Enriquecem se apropriando do patrimônio publico, atribuindo-se vantagens que nada lembram um estado republicano e uma democracia. Enquanto mantêm a maioria do povo na miséria e na ignorância, com a violência da pobreza e da repressão através do aparato policial e militar, tentando disciplinar e enquadrar o povo, mantendo-o alienado, perpetuando assim o poder das minorias historicamente endinheiradas e seu prestígio político.
Observem a mentira e o engodo. Se o governo tem 25 milhões de famílias cadastradas no bolsa família, o que equivale a 100 milhões de pessoas, como teriam retirado da pobreza 30 milhões de brasileiros e alçado outros 30 milhões à classe média? Então não havia classe média e alta? Marketing eleitoral com o que se satisfazem os individualistas e a militância partidária.
Marcio Pochmann, economista e professor da Unicamp, ex-diretor do IPEIA no governo Lula, afirma em seu livro, “Não há uma nova classe média, mas uma classe trabalhadora remediada, individualista, consumista e não sustentável.” O que quer dizer que ninguém é classe média com renda mensal de R$ 1.500,00 e que não estão garantidos os postos de trabalho, nem essa renda por muito tempo.
Se puderem leiam o link do Manifesto de Negros e Negras Organizados em Luta por seus Direitos. Discutam-no, modifiquem, ampliem, se apropriem e compartilhem. Adote e defenda essas ideias independentes nos fóruns em que participar.
Levantar milhares de reivindicações específicas fará com que não sejam implementadas, como ocorreu nos Conapir(es) I e II. Elas não serão como não foram resolvidas desde a constituição de 1988 à II Conapir.
A experiência e o bom senso aconselha que priorizemos, nos debates e negociações, questões fundamentais mais justas e que contemplem a maioria. O acúmulo de forças e organização nos fará conquistar as demais. Ao levantar milhares de demandas atomizadas e específicas, permitimos que o governo e a sociedade elitista e racista manobrem e não atendam nossos direitos, priorizando os menos importantes, a conta gotas, nos mantendo reféns de seus projetos ao longo de décadas, como tem sido há séculos.
Fraterno e grande abraço a todos.
Cpns, 03/011/2013
Reginaldo Bispo – MNU de Lutas, Autônomo e Independente.