Mapa de conflitos ambientais integra painel na Cúpula dos Povos

Foto: Peter Illiciev

Tatiane Leal  – Agência Fiocruz de Notícias

A tecnologia de sistemas de informação pode ser um instrumento de luta e articulação social. Essa é a premissa dos pesquisadores e ativistas que trabalham com o mapeamento de territórios, tema discutido na quinta-feira (21/6) na Cúpula dos Povos pelo Espaço Saúde Ambiente e Sustentabilidade, uma articulação entre a Fiocruz, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). O painel Mapas, resistências e movimentos por justiça ambiental, economia solidária e agroecologia, mediado pelo pesquisador Marcelo Firpo, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Cesteh/ENSP/Fiocruz), apresentou iniciativas de mapeamentos que realizam diagnósticos importantes do território brasileiro e internacional, trazendo o ponto de vista das comunidades e abordando desde a geografia e a história dos conflitos ambientais até iniciativas de economia solidária.

Um dos projetos apresentados foi o Mapa de conflitos envolvendo injustiça ambiental e saúde no Brasil, desenvolvido pela Fiocruz e pela ONG Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), com o apoio do Ministério da Saúde, sob a coordenação-geral de Marcelo Firpo. O mapa foi construído sob um foco principal: identificar quem são as pessoas atingidas pelos conflitos ambientais e quais são os problemas de saúde que atingem essas comunidades. Os dados são reveladores: apesar de representarem apenas 0,5% da população brasileira, os protagonistas dos conflitos ambientais são as populações indígenas (33,67% dos atingidos), seguidos de perto pelos agricultores familiares (31,99%).

Das pessoas atingidas por conflitos ambientais, 60,85% estão na zona rural. “Essa população é expulsa de seu território para ser substituída pelo capital em suas diversas formas”, explica a pesquisadora da Fiocruz Tânia Pacheco, coordenadora-executiva do projeto. “Ao migrarem para as cidades, precisam disputar o espaço com os outros refugiados ambientais”, completa. O mapa também diagnostica que os atingidos tornam-se sujeitos a diversos problemas e riscos à saúde, como queda da qualidade de vida, violência, desnutrição, doenças, falta de atendimento médico e insegurança alimentar. Lançado em 2010, o mapa busca a atualização constante a partir da integração com as comunidades e movimentos sociais, ao se alimentar de comentários e denúncias feitos na plataforma on-line por esses atores. “É parte do direito do cidadão que vive na pele esses conflitos transformar essa iniciativa em um instrumento de luta, para a formulação de políticas públicas e a transformação da sociedade”, ressalta Pacheco.

Sistemas fazem o mapeamento da agroecologia e economia solidária

Outro projeto apresentado no painel foi o Agroecologia em Rede, um sistema de informações sobre iniciativas em agroecologia no Brasil, gerenciado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) e pela Sociedade Científica Latino-Americana de Agroecologia (Socla). Também integrou a discussão o Farejador da Economia Solidária, uma ferramenta de busca para produtos e serviços oferecidos ou consumidos por empreendimentos da economia solidária no país, desenvolvida pelo Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), com dados da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (Senaes/MTE).

O FBES elaborou também um agregador de informações de mapas independentes, o Intermapas. A ferramenta articula as informações dos três sistemas apresentados – Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, Agroecologia em Rede e Farejador da Economia Solidária – além de um quarto sistema, o Mapa dos Projetos Financiados pelo BNDES. Depois do Intermapas, foi apresentado o projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA), conduzido por pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), que se baseia na autocartografia dos povos e comunidades tradicionais da Amazônia.

Também foram discutidos projetos internacionais de sistemas de informação, como o mapeamento da justiça ambiental realizado pelo projeto Ejolt – Environmental Justice Organisations, Liabilities and Trade (Organizações de Justiça Ambiental, Responsabilidades e Comércio, na sigla em inglês), que tem como parceiros diversas organizações de justiça ambiental e centros de pesquisa de vários países, inclusive a Fiocruz, e o mapa de conflitos ambientais desenvolvido pelo Centro Documentazione Conflitti Ambientali (CDCA, ou Centro de Documentação em Conflitos Ambientais), da A Sud, ONG italiana.

http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/30524

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