Troque um estádio por um professor

Joaquim Onésimo Ferreira Barbosa

Há um discurso vago, omisso e falso quando se diz que no Brasil educação é prioridade. Não. Não é. Se fosse, milhões (e por que não dizer, zilhões) gastos na construção de estádios e arenas para a Copa seriam gastos com a educação. Todos os governos, indistintamente, passeiam nesse discurso vago, omisso e até mesmo mentiroso. Gastar no ensino público não proporciona certeza de votos. Construir estádios, sim. E assim caminhamos rumo ao fracasso, cantando aquela musiquinha de uma cantora cujo nome não me vem à mente “tô nem aí, tô nem aí…”.

Li, hoje, uma reportagem no portal G1, da emissora que comprou o direito de vender a ética. Segundo a reportagem, um aluno foi agredido por um professor, em Sorocaba, porque foi juntar a borracha que caiu no corredor e um professor que passava pelo local o agrediu. Versão de um lado, o outro deixou de ser ouvido. É assim mesmo que agem com a educação. Ouçamos a dona Fifa, os presidentes de times, os banqueiros, os grandes empresários, deixemos para depois os responsáveis pelo futuro. Professor não tem que ser ouvido, professor tem que ser inquirido, tem que ser tratado a cassetete, a gás de pimenta. É assim que funciona por aqui. Neste país, onde um metalúrgico já foi presidente, não há espaço para se ouvir os professores, os verdadeiros “marginalizados” da história. Aqui compromisso com a educação parece ser enfeite, só funciona em dado momento, depois vira lixo. Aliás, por aqui a educação parece estar no lixo mesmo. Escolas aos fragalhos, professores desvalorizados, alunos que ditam as regras na escolas. Conheço a história de um professor que tinha que dar aulas com um aluno que levava um facão para a sala, talvez para intimidar quem quisesse enfrentá-lo.

O ministro Mercadante, assim como os secretários de educação estaduais e municipais, talvez nunca tenham enfrentado situações constrangedoras como muitos professores enfrentam dia a dia. Não conhecem a realidade dura e, como bem dizia minha avó, “crua e nua”.

No Brasil, professores são os verdadeiros heróis. Heróis anônimos que arriscam sua vida com o sonho de que mudarão o mundo. Heróis, dos quais muitos pagam para trabalhar. No Brasil, o país que enche o peito para dizer que educação é prioridade, os 10% do PIB, que deveriam ser investidos em educação, não o são. 10% em educação é muito. Muito pouco diante dos zilhões desviados por aí e nunca voltarão aos cofres públicos.

Coloquem um senador ou um deputado em sala de aula em uma escola pública e vejam quantas horas ele ficará lá. Troquem o salário de um senador ou de um deputado pelo salário de um professor de escola pública e vejam como ele sobreviverá. Falar em educação é bonito, difícil é viver o que se fala.

Aqui, estádios valem mais que um professor. Aqui, as maracutaias ofuscam o nosso futuro. Obras faraônicas são modelo de país desenvolvido. Pensamento de quem pensa pouco e vive de pedaços de cimento. Quem realmente pensa no futuro investe no futuro, e o futuro é a educação, não estádios para encher os olhos da Fifa. Quem quiser calcar o futuro com bases sólidas, que troque um estádio por um professor.

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