Por: Altino Machado, Terra Magazine
Um pequeno grupo de manifestantes conseguiu quebrar o silêncio da Ministra de Meio Ambiente Isabela Teixeira sobre questões como Código Florestal e a hidrelétrica de Belo Monte nesta quinta-feira (21), durante o Side Event do governo federal sobre políticas de redução do desmatamento do Brasil, realizado no penúltimo dia da Conferência das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável.
O grupo protestava inicialmente contra o Código Florestal e a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Protestava de forma silenciosa, apenas empunhando cartazes e distribuindo adesivos da campanha, que foram entregues à ministra e integrantes da mesa.
O evento prosseguia normalmente, até que o grupo resolveu ficar de pé, na frente da mesa onde estavam a ministra do Meio Ambiente, representante do governo alemão, do Banco Mundial e outros, que preferiram ignorar o que acontecia.
Não demorou muito, um dos manifestantes começou a discursar em inglês, devido a maior parte do público ser de outros países. Com frases enfáticas, o rapaz repetia que “o Brasil não é democrático e o código é um retrocesso”.
A ministra, que mediava a mesa, pediu inúmeras vezes para falar, mas o rapaz não parava. A segurança foi acionada, chegou a puxá-lo, mas a Isabela Teixeira pediu que o soltassem. Foi nesse momento que o silêncio foi quebrado. Visivelmente alterada, a ministra criticou duramente os manifestantes. O grupo se sentiu fortalecido com a atenção dada pela ministra e perguntou sobre o Código Florestal e a construção da hidrelétrica de Belo Monte. No meio da discussão, a ministra pediu insistentemente para falar.
– Nós estamos tentando ter um diálogos com você há muito tempo… Este país não é democrático, é mentiroso – respondeu uma manifestante.
A ministra Isabela Teixeira não aceitou o que foi dito e respondeu:
– Se o país é mentiroso, talvez não tivesse a menor taxa de desmatamento dos últimos tempos. A sua não é a única verdade. Isso aqui é um espaço democrático e em espaço democrático você precisa ouvir as pessoas e ser ouvido. E eu estou ouvindo os seus protestos.
Isabela acatou as perguntas e quebrou o silêncio falando sobre o Código Florestal e a hidrelétrica de Belo Monte em três aspectos:
– Primeira coisa: Código Florestal. A luta não acabou, realmente a luta não acabou. Agora vamos ter que ir para o Congresso Nacional, espaço democrático da sociedade brasileira, defender os nossos interesses. Sabe por que? Isso aqui é uma democracia e eu lutei por essa democracia. Eu, Isabela, lutei por essa democracia e gostaria que os ambientalistas elegessem mais deputados e senadores ambientalistas para que agente pudesse convencer todos e ter força no Congresso. Isso é democracia.
– Segundo aspecto: Código Florestal Brasileiro. Nós temos 90% de agricultores familiares ilegais pelo atual Código Brasileiro porque ele mudou ao longo do tempo sem aderir à realidade social desse país. Eu não tô falando dos grandes desmatadores não, eu tô falando de gente que planta nesse país desde o início do século passado e que estão ilegais perante a lei. 90% das propriedades rurais deste país são de pequenos agricultores e representam 24% dos agricultores deste país, 10% representa 76% dos territórios agrícolas desse país, e nós mandamos que esses 10% recuperasse tudo, e olhando o critério social para não tirar o povo do campo que produz alimento para nós comer. Isso é socioambiental, é chegar à dimensão em todo país em toda sua totalidade, e não só no ambientalismo. Isso é democracia, isso é desenvolvimento sustentável.
– Terceira coisa: é importante que seja dito aqui: eu vou ler o que a imprensa está escrevendo: termina a conferência e deixa promessas, tom de decepção marca discurso da conferencia, a conferencia é um fracasso. Sabe que manchetes são essas? Jornais de 1992. Tá aqui a verdade, tá aqui a verdade dita. Quem luta pelas questões de sustentabilidades enfrenta estas barreiras antes de 1992. Eu não aceito que seja dito que não existe espaço democrático no Brasil.
Criticada sobres as políticas do Brasil, Isabela acrescentou:
– Eu não quero uma política ambiental de problemas. Eu quero uma política de resultados. É isso que a sociedade está buscando. Se nós temos problemas, nós vamos corrigir os problemas.
Questionada sobre a construção da Belo Monte, Isabela Teixeira respondeu:
– É extremamente importante que todo mundo saiba: Belo Monte não foi licenciada por mim. Belo Monte foi licenciada pelo ex-ministro Carlos Minc. Belo Monte foi uma decisão de licenciamento tomada pelo Ibama, e eu estou fazendo todos os esforços. Acabo de fazer uma reunião com 30 lideranças indígenas, exatamente para corrigir se tiver mal feito, e isso eu posso fazer no âmbito ambiental da minha competência de cuidar. Eu não posso resolver todos os problemas. A Belo Monte tem um plano de licenciamento ambiental do Xingu de R$ 4 bilhões.
Isabela encerrou a discussão com um convite aos manifestantes:
– Venham junto com o Ministério do Meio Ambiente, não fiquem contra o ministério. Nós já somos muito poucos perante aqueles que não sabem avançar na zona do ambientalismo.
Com informações da jornalista Julie Messias e Silva, autora do vídeo acima.