Por Jacqueline Freitas , com colaboração de Daniel Brasil
O lugar das práticas culturais afrodescendentes e os modelos de desenvolvimento que delas se originam, funcionando como alternativas para a erradicação da pobreza e a preservação do meio ambiente. Este foi o eixo do diálogo promovido pela Fundação Cultural Palmares na tarde do último sábado (16), na programação da Rio+20, no Galpão da Cidadania, um dos espaços preparados pelo Ministério da Cultura, na Zona Portuária da capital fluminense.
Para favorecer o tom mais informal, o diálogo foi organizado no estilo de talk show, para o qual foram convidadas personalidades expoentes nos temas diversidade, justiça social e exclusão – atributos diretamente relacionados à população e à cultura afro-brasileira. Assim como no debate sobre a Convenção 169 da OIT, realizado pela manhã, o público superlotou o auditório. Quilombolas, indígenas, lideranças jovens discutiam sobre as práticas culturais tradicionais, não ocidentais e não eurocêntricas como elementos que merecem lugar acentuado na definição de sustentabilidade. Também entraram em pauta as ações efetivas que são necessárias para promover justiça ambiental em favor desses grupos populacionais.
Quilombos e terreiros – Constituídas sobre o legado dos negros escravizados no Brasil, seja sob o aspecto familiar ou religioso, as comunidades remanescentes de quilombos e os terreiros religiosos de matriz africana tradicionalmente primam pelo respeito à natureza e, consequentemente, pela sua conservação. Valores associados à economia e ao mercado vêm se incorporando à discussão ambiental. Apesar da pouca visibilidade, não são poucos os produtos, espalhados pelo país, gerados a partir de práticas ancestrais. Um simples exemplo foi apresentado por Maria Rosalina dos Santos, que trouxe para a Rio+20 sabonetes de aroeira produzidos em sua comunidade quilombola no Piauí. Esta e outras práticas têm potencial estratégico para a redução da pobreza, com impacto expressivo sobre as relações comerciais que envolvem serviços e bens culturais.
Como destaca o presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, os quilombos e terreiros são segmentos com pouco acesso a bens culturais e econômicos, mas também os que menos agridem o meio ambiente.
Juventude – Na linha de frente do “rolo compressor desenvolvimentista” e das desigualdades sociais para as quais uma conferência como a Rio+20 busca resoluções, são os jovens que sofrem os efeitos mais perversos. Os impactos sobre a juventude abrangem oportunidades de educação e trabalho, atividades produtivas sustentáveis, participação comunitária e fragmentação identitária, e os resultados variam entre dependência química, perda do vínculo com seu território, êxodo rural, expropriação, perda da cultura e identidade, violência social e de gênero.
Os participantes do debate foram praticamente unânimes em apontar que a padronização de espaços e territórios, simbolizadas por usinas, minerações e monoculturas, por exemplo, resultam em injustiças ambientais, o que significa riscos e danos para as camadas sociais mais vulneráveis, que, assim, não só são excluídas do que se propõe como desenvolvimento, como também capitalizam os ônus decorrentes.
O Talk Show da FCP teve como moderadora a coordenadora municipal de Igualdade Racial em Guarulhos (SP) e especialista na implementação da Declaração e Programa de Ação de Durban, Edna Roland. Como demais convidados, participaram o professor Robert Bullard, da Texas Southern University Houston (EUA); Tânia Pacheco, da Fiocruz; Maria Rosalina dos Santos, vereadora quilombola do Piauí; babalaô Ivanir dos Santos, do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas – CEAP; e Bruno Pinheiro, da Rede de Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade – Rejuma.
http://www.palmares.gov.br/2012/06/quilombos-terreiros-juventude-e-alternativas-para-erradicacao-da-pobreza-e-desenvolvimento-sustentavel/