Rio-20: “Relatora da ONU está cética quanto a resultados”

A urbanista Raquel Rolnik acredita que só rompendo o modelo consumista da sociedade atual o planeta poderá ser salvo

Kélia Jácome, especial para Nacional

Fortaleza. Em visita a Fortaleza, como relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) para Moradia Digna, na última sexta e ontem, a urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), Raquel Rolnik, falou sobre seu ceticismo com relação aos resultados da Rio+20 e contradisse o discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura da conferência.

Diferente do que foi dito pela presidente Dilma Rousseff (PT), que afirmou que as políticas de sustentabilidade do Brasil têm servido de exemplo para outros países, a urbanista frisa que o modelo predominante de desenvolvimento econômico do País não é estruturado em bases socioambientais.

“As nossas commodities (produtos básicos para serem comercializados) não são sustentáveis, nem o agronegócio, nem a mineração, nem mesmo a nossa matriz energética. As hidrelétricas, por exemplo, embora gerem energia renovável, trazem sérios impactos ambientais e enormes desequilíbrios a médio e longo prazos”, argumentou Rolnik.

Quanto aos resultados práticos que podem ser decorrentes da Rio+20, ela se disse “absolutamente cética”. “Não só porque não parece que vá sair algo de oficial, mas porque o formato de eventos como a Conferência Rio+20, que foi inovador na Eco 92, não tem mais uma incidência concreta, nem agenda política, nem ação no campo oficial”.

Economia verde

Com relação ao conceito que vem sendo debatido por segmentos da sociedade civil na conferência, a economia verde, a urbanista afirma se tratar de uma “armadilha”. “O que implica repensar o modelo de sociedade baseada no consumo. Não existe a menor chance de todas as pessoas passarem a consumir o que os habitantes de países ricos consomem. A equidade, uma questão fundamental, não é citada nesse conceito. Essa economia verde inclui novos produtos, produtos verdes. Essa ideia de que a humanidade será salva pela reciclagem é falsa”, opina.

A alternativa apontada pela relatora da ONU é o enfrentamento dos modelos que incentivam o consumo de qualquer forma. “É um caminho bem radical enfrentar o modelo que vivemos de uma sociedade de consumo. Temos que começar a pensar em limites do que cada cidadão possa acumular. Devemos discutir a equidade e a distribuição. Vivemos hoje uma catástrofe socioambiental. As catástrofes naturais que já estão aí são resultado do controle total do paradigma único do consumo”, alertou.

Entretanto, ela diz que movimentos contrários a esse padrão estão longe de revertê-lo, apesar de a consciência ambiental ter se ampliado da Eco 92 para os dias de hoje. “É uma mudança importante. O problema é que a questão ambiental virou um produto de consumo e não foi capaz de incidir no modelo político e econômico vigente”, concluiu.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1149619. Compartilhado por Ivna Girão.

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