Mais trabalho escravo em BH

Sem estrutura. Alojamento era dividido por dezenas de operários, que só tinham seus colchões FOTOS STIC-BH/DIVULGAÇÃO

Construtoras foram obrigadas a fazer acerto de operários resgatados de obras

Daniel Leite e Natália Oliveira

A promessa é tentadora: emprego numa cidade grande, bom salário, um lugar para morar e a chance de dar uma vida melhor às famílias que ficam para trás. A realidade, porém, é outra: os R$ 1.500 mensais às vezes viram só R$ 200, a comida é só arroz, o alojamento são colchões amontoados ou papelão no chão. Mais uma denúncia de que trabalhadores da construção civil estavam em situação análoga à escravidão resultou ontem em acordo, no Ministério do Trabalho.

As primeiras rescisões de contrato desses operários foram feitas ontem, no total de R$ 115 mil pagos por uma construtora, e 25 já embarcaram de volta para o Nordeste, onde foram “aliciados”. Os operários foram descobertos pelo Ministério do Trabalho após denúncia de quatro deles.

Quando receberam a proposta em Araci, na Bahia, para trabalhar na capital mineira, tiveram a garantia de que receberiam, por dia, R$ 40 para serventes e R$ 60 para pedreiros. Nenhum deles, porém, teve o salário quitado, e muitos trabalhavam até dez horas por dia.

“Eles disseram que receberíamos de R$ 1.200 a R$ 1500 por mês, porém chegando aqui não recebemos nem R$ 700”, disse José Afonso Santos, 22. Ele chegou à cidade no dia 3 de maio e ficaria por um ano, mas anteontem a empresa rescindiu o contrato. “Não recebemos nenhum acerto”.

Além disso, dividia alojamento com dezenas de funcionários, em condições sub-humanas, típicas de trabalho semelhante ao executado por escravos, segundo o Programa de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, do governo do Estado, que acompanha o caso.

“Nós dormimos amontoados e só temos nossos colchões e um fogão. Já teve dia em que comemos só arroz porque não tínhamos dinheiro para mais nada”, disse Santos. Eles contam que recebiam R$ 60 mensais para a alimentação.

As empresas denunciadas foram intimadas a acertas as contas, mas alegam não saber das ilegalidades porque contratavam os funcionários por meio de um agenciador, que não apareceu ontem para fazer os acertos dos trabalhadores.

http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=205071,OTE

Enviada por José Carlos.

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