Mayron Régis
Desaprendera com o tempo. Reaprender como se não há indicações de que caminho tomar? Aprender é uma questão de sorte ou, quem sabe, de má sorte. O carro pregou entre Anapurus, Santa Quitéria e Mata Roma. Só o Cerrado testemunharia algo a favor dos desvalidos numa região daquela incruenta. Assim que a moça subiu na garupa de uma moto com objetivo de conseguir um mecânico os moços se viram a mercê da sorte ou da má sorte. Qual das duas chegaria mais cedo?
Quando ainda não haviam se dado conta de como chegar ao povoado Coceira, município de Santa Quitéria, sem ser pela Barra da Onça, eles se arriscaram a perguntar para um segurança da fazenda Bandeira, de propriedade da Suzano Papel e Celulose, qual ramal os socorreria de forma a chegarem aonde queriam ir.
A resposta do segurança os levou para tudo que é lugar, menos, é claro, para Coceira. Em determinado momento temeram por suas vidas visto que bateram de frente com uma barreira. A mente de um deles, de repente, aclarou-se que aquele local fora palco de verdadeiras patifarias entre a Suzano e o plantador de soja Gilmar que disputavam e ainda disputam quem pode mais em Santa Quiteria, Anapurus, Brejo e Milagres. O motorista não teve dúvidas, acelerou o carro e este respondeu a contento para que logo saíssem no povoado Coceira.
Por que modos alguém sonharia em topar com gente armada naquele Cerrado? Os povoados do Baixo Parnaiba maranhense, em outros tempos, celebrizaram-se pela sua candidez, mas a pressão para que os pequenos proprietários e os posseiros vendessem suas áreas para empresas de reflorestamento ou para plantadores de soja atiçou não só o mercado imobiliário como também o mercado da insegurança. O carro pregara em meio ao Cerrado em um trecho que aconteceria de tudo um pouco ou até não aconteceria nada. Esperar-se-ia o pior, roubarem o carro e o equipamento de trabalho da equipe, mas, felizmente, o mecânico atendeu o chamado, viu o problema e consertou o motor.
A sorte os auxiliou, em parte, pelo sentido com que imprimem as suas buscas em lugares desprovidos de qualquer interesse para a maior parte da sociedade. O que ocorre numa situação dessas, normalmente? O recuo. A pessoa ponderaria o que naquele lugar o atraia para que saísse de seu conforto e perdesse seu final de semana. De fato, o que se obteve em tantos meses de desprendimento? Para as comunidades agroextrativistas de Santa Quiteria não houve retorno por parte do Iterma das suas exigências relativas a regularização fundiária. Depende de vontade politica a regularização fundiária das comunidades de Santa Quitéria, São Bernardo e Santana, e como o governo se exime de qualquer ordenamento territorial no Cerrado maranhense as empresas esbanjam saúde a custa da grilagem de terras e do desmatamento inconsequente do Cerrado.
O Iterma se comprometeu diversas vezes com as comunidades e desses compromissos se agendavam datas em que as equipes do órgão viajariam para Santa Quitéria. Elas realmente acorreram às comunidades para cumprir o contratado, só que a governadora Roseana Sarney mudou a direção do órgão. As comunidades aguardaram o momento mais adequado para continuar as suas gestões pela regularização fundiária.
É certo que o governo do Maranhão não contemplou nenhuma comunidade de Santa Quitéria com o título da terra e isso se deve à influência da Suzano e dos plantadores de soja junto ao governo através da secretaria de indústria e comércio gerenciada pelo senhor Mauricio Macedo, ex-funcionário da Alumar, contudo nesses mais de seis anos de insistência e de não-arrependimento em uma luta extenuante as comunidades de Santa Quiteria contrariam as aves de rapina que torcem pela sua má sorte e nessa contrariedade alargam seus projetos de obtenção de terra para outros como a construção de galpões de galinha caipira e o manejo de brotações de bacurizeiros. Que o digam Coceira, Baixão da Coceira, Lagoa das Caraíbas, São José, Tabatinga, Pau Serrado, Cana Brava e Vertentes.
http://territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com.br/2012/06/um-dia-de-sorte-no-baixo-parnaiba.html