Nota de repúdio à repressão no Pinheirinho

“A tradição dos oprimidos nos ensina que o “estado de exceção” em que vivemos é na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é originar um verdadeiro estado de exceção; com isso,nossa posição ficará mais forte na luta contra o fascismo. Este se beneficia da circunstância de que seus adversários o enfrentam em nome do progresso, considerado como uma norma histórica. O assombro com o fato de que os episódios que vivemos no séculos XX “ainda” sejam possíveis, não é um assombro filosófico. Ele não gera nenhum conhecimento, a não ser o conhecimento de que a concepção de história da qual emana semelhante assombro é insustentável”1

A Associação dos Geógrafos Brasileiros Seção São Paulo vem a público manifestar seu repúdio às ações de repressão do Governo do Estado de São Paulo, através de seus capangas, a Polícia Militar, contra os moradores da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos – SP. Isso nos mostra que em um mundo invertido, onde a justiça culpa os moradores da ocupação e consideram legal a ação do Estado, se faz necessário re-inverter os papéis e derrubar as máscaras dos opressores. Afinal, quem são os criminosos da história, os vencedores ou os vencidos?

A ação da PM do Estado de São Paulo desrespeita a ordem judicial federal e atropela as negociações para a retirada pacífica dos moradores. Ora, não nos cabe, entretanto, sair em defesa da justiça federal e de suas negociações pacíficas, pois a violência a qual está submetida a população pobre deste país está sempre encapuzada de discursos que se julgam mais humanitários, quando os valores e princípios humanos nunca foram cumpridos nessas terras tupiniquins. Aliás, a própria estrutura social em que nos reproduzimos depende da violência contra os mais pobres para se efetivar e dar conta de continuar seu processo capitalista de valorização. A derrubada de sangue em nome do progresso não começou com o PSDB e nem vai acabar com ele. Ela é histórica e representa que a violência é pressuposto para o sistema de produção de mercadorias.

À custa de vidas se for necessário, pois as ações violentas, que vimos e temos notícias, no Pinheirinho nos mostram que em uma sociedade marcada pelo fundamento do valor e da propriedade privada aquilo que nossa democracia nos assegura como “Estado de Direito” é na verdade (e sempre foi) um “Estado de Exceção” para as classes oprimidas e mais pobres e, tratando-se de um Estado de Exceção, como regra geral não há limites para os homens da lei, que têm nas mãos o poder para matar, e sim, se for necessário (ou mesmo desnecessário), eles vão matar (como sempre fizeram na história desse país). Vão matar para defender o direito à propriedade privada de um especulador, Naji Nahas. Parece-nos que, além de todo o sacrifício dessas vidas (6.000 pessoas que terão suas casas destruídas e ficarão ao deus-dará do “Estado de Direito”), o governo do Estado de São Paulo está financiando a nossa crise mundial!

Nossa dor pelos moradores que buscam resistir no Pinheirinho é muito grande, mas nossa ação prática acaba se vendo cada vez mais limitada em um mundo onde nossa consciência sobre ele está cada vez mais obscurecida pelo processo social que estamos submetidos todos. Dividimos a dor, as mortes e o sentimento de revolta por estarmos cada vez mais impotentes diante das atrocidades do mundo que vivemos.

Porém, é sempre necessário nos juntarmos e coroarmos nossos reis (presentantes). E essa coroa é de sangue, o sangue de inocentes que perdem a vida, pois mais uma vez “o ser humano é descartável no Brasil, como modess usado ou bombril2”. É sempre bom não esquecer nossos poetas3, como bem nos lembrou um de nossos associados: “Alckmin e sua gangue, vão nadar numa piscina de sangue”.

1BENJAMIN, W. Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 226.

2“Diário de um detento”. Mano Brown / Jocenir. Sobrevivendo no Inferno, 1997. Cosa Nostra..

3A alusão do poeta é ao rapper Mano Brown, dos Racionais MC´s, mais precisamente à letra da canção “Diário de um detento”. Mano Brown / Jocenir. Sobrevivendo no Inferno, 1997. Cosa Nostra..

 

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Enviada por João Batista.

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