O Brasil ganhou uma sobrevida de 90 dias no programa de corte de produção de alumínio da gigante americana Alcoa, que na semana passada anunciou fechamento de fábricas nos EUA e na Europa. A subsidiária na América Latina tem até 31 de março para encontrar uma solução para reduzir seus custos no país e tornar suas operações competitivas. Caso contrário, as duas unidades brasileiras da companhia vão compor uma nova lista de cortes.
“A unidade de Poços de Caldas (MG) e até uma linha da Alumar, em São Luis (MA), estão em risco”, disse ao “Valor” o presidente da Alcoa para a América Latina e Caribe, Franklin Feder. “Já alertei as autoridades de Brasília e os governadores de Minas e Maranhão”, afirmou o executivo.
Feder se mostra esperançoso de que uma solução seja apresentada até o fim de março, pois ele diz não ter mais argumentos para convencer o presidente mundial da Alcoa, Klaus Kleinfeld, que lhe cobra uma decisão. Segundo informa, há três soluções de curto prazo em discussão, mas a questão é se elas serão definidas a tempo, pois envolvem várias autoridades governamentais.
No início de janeiro, alegando dificuldades para suportar os altos custos operacionais (principalmente de energia) associados ao declínio nos preços do alumínio no mercado internacional – em 2011 as cotações recuaram 19% -, a multinacional anunciou corte de 12% da produção mundial, o equivalente a 531 mil toneladas do metal. “As operações brasileiras ficaram de fora por pouco, mas com essa condição temporária”.
No Brasil, observou o executivo, o custo da energia é o ponto crucial da fabricação de alumínio. O preço do MWhora, informa Feder, já atinge US$ 80, mais que o dobro da média mundial. Como a empresa tem uma parcela de energia própria, uma alternativa é desligar os fornos de Poços de Caldas e destinar essa energia para a unidade da Alumar, que tem maior rendimento energético do insumo.
A energia é um insumo com peso significativo na fabricação do alumínio. “No Brasil, nosso custo caixa de produção estava na faixa de US$ 2,3 mil a tonelada, ante uma cotação de US$ 1,95 mil em dezembro no mercado internacional”, informou. Segundo o executivo, a empresa está tendo de cobrir a diferença. Até abril, a situação era confortável, pois o metal estava em alta e era negociado a US$ 2,7 mil a tonelada.
Se optar pela solução de migrar os 220 MW de energia própria que abastecem Poços de Caldas – o que dá competitividade para essa unidade – para a Alumar, a empresa vai deixar de produzir 95 mil toneladas de alumínio por ano. Com isso, o passo seguinte seria a demissão de 900 funcionários.
O executivo observa que isso, no entanto, não garante que a Alumar sairia ilesa. “Mesmo assim, poderíamos ter que fechar também uma das linhas de Alumar”, explicou. Ou seja, mais 150 mil toneladas estariam em risco. A energia que recebe hoje é fornecida pela hidrelétrica de Tucuruí, em contrato que vai até 2024 e cujo valor cobrado, alega ele, “não é competitivo”. Um contrato similar tem a Albrás, no Pará, que foi da Vale e hoje pertence ao grupo norueguês Norsk Hydro, que opera com capacidade igual.
O consórcio Alumar, em associação com a BHP Billiton, demanda cerca de 500 MW de energia e tem uma capacidade de 450 mil toneladas por ano. Grande parte do abastecimento ainda é feito pela Eletronorte, estatal dona da hidrelétrica de Tucuruí.
A Alcoa já abastece com energia gerada em hidrelétricas próprias cerca de 350 MW, metade do que consome nas duas fábricas. Nos últimos dez anos, investiu US$ 1,2 bilhão para elevar sua autossuficiência energética – são quatro hidrelétricas (em conjunto com outras empresas) que vão garantir cerca de 70% do consumo quando estiverem todas à plena capacidade – ou seja 500 MW.
Segundo o executivo, a luz vermelha que levou aos cortes de produção da semana passada acendeu em setembro, diante da crise europeia e do desabamento dos preços do alumínio no mercado internacional. Nesse momento, Feder disse que intensificou contatos com as autoridades estaduais e de Brasília. Em dezembro, a matriz informou que daria 90 dias para ele apontar uma solução para o Brasil. “Tenho uma agenda contínua com todo mundo do governo. Por enquanto, conseguimos tirar o Brasil do mapa de cortes”, observou.
O executivo aposta ainda no Grupo de Trabalho do Alumínio (GTA), grupo formado pelo governo e o setor para elaborar um relatório técnico com as possíveis medidas a serem adotadas no médio e longo prazo para a indústria de alumínio no país. A portaria interministerial foi criada em julho, mas a conclusão dos trabalhos foi prorrogada e até agora não há conhecimento sobre o que constará no relatório.
“O Brasil tem de decidir se quer manter a cadeia de produção de alumínio no país ou se quer ser exportador de matéria-prima (bauxita e alumina) e importador de metal, produtos transformados e até de produtos acabados”, afirmou o executivo. As pressões sobre o setor são verificadas em todo o mundo. Com a crise na Europa (grande consumidor) e nos EUA, a demanda pela commodity se enfraqueceu. As incertezas derrubaram os preços do metal. O piso considera competitivo seria de US$ 2,5 mil a tonelada, diz Feder.
A Alcoa tem 25 fábricas de alumínio globalmente. Operações da Europa Mediterrânea também estariam sendo revistas. Na semana passada, divulgou prejuízo de US$ 191 milhões no balanço do quarto trimestre, ante lucro de US$ 258 milhões no mesmo período de 2010. A receita global da Alcoa somou US$ 24,9 bilhões em 2011. No Brasil, passou de US$ 1,6 bilhão para US$ 2 bilhões no período. “Mas ainda estamos registrando prejuízo”, ressaltou Feder.
Fonte: Valor Econômico. Enviada por Mayron Régis.