Imigrantes haitianos começam a sair de Brasileia amanhã

Município do Acre abriga atualmente 1.250 pessoas que fugiram do Haiti

Heloísa Mendonça

A partir de amanhã, cerca de 40 haitianos devem deixar diariamente Brasileia, no Acre, com todos os documentos regularizados, como vistos de permanência no Brasil, vacinação em dia e Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS). A informação foi divulgada pelo secretário de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) do Acre, Nilson Mourão.

A medida de ajuda foi decidida após reunião da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, com os secretários executivos dos ministérios de Desenvolvimento Social e Combate à Fome e da Justiça.

O município abriga atualmente 1.250 imigrantes haitianos. Vítimas da miséria, de uma epidemia de cólera e do terremoto que matou mais de 150 mil pessoas em janeiro de 2010, eles chegam à cidade pelas fronteiras com o Peru e a Bolívia em busca de oportunidades de emprego. 

Em Brasileia, os haitianos tentam regularizar a documentação de permanência no país, para, depois, seguirem viagem para outras cidades brasileiras. “A situação é um caos. O município possui apenas 30 mil habitantes, sendo que a metade vive na zona rural. Não há condições de absorver tanta gente”, afirma Nilson Mourão.

De acordo com o secretário, a onda migratória, iniciada em dezembro de 2010, transformou-se numa rota organizada por “coiotes”. Ainda segundo Mourão, muitos imigrantes estão sendo vítimas de extorsão, roubo, estupros e mortes quando percorrem territórios da fronteira.

O haitiano Jackfim Tienne é um dos vários que se arriscaram na travessia ilegal. Ele conseguiu desembarcar no município brasileiro no fim de novembro do ano passado e aguarda um visto de trabalho para procurar emprego como professor de línguas.

Fácil. Para chegar ao Brasil, ele precisou viajar primeiro à República Dominicana – que divide a ilha de São Domingos com o Haiti – e, depois, seguiu de avião para o Peru. Da capital Lima, ele viajou para a Bolívia de ônibus e conseguiu cruzar a fronteira brasileira pagando propina para os policiais.

“Tive que pagar para o motorista e para os polícias da fronteira U$ 100 e, depois disso, mais R$ 50 para outro. Foi muito fácil”, afirma o haitiano.

Tienne conta que, desde o terremoto de 2010, ele ficou desempregado, mas soube, através de um amigo haitiano – que conseguiu trabalho em São Paulo -, que, no Brasil, a demanda por emprego estava crescendo. “Todos os dias, há uma lista de vistos concedidos, fico sempre esperando que seja a minha vez. O que eu necessito é de um trabalho, onde não importa. Eu posso ir para o Rio, Rondônia, Porto Velho”, explica.

De acordo com a Sejudh, desde 2011 já passaram pelo Acre 2.500 haitianos. Eles pedem refúgio, mas não conseguem. De acordo com o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), desastres ambientais ou problemas econômicos não são motivos para a concessão de refúgio.

Os pedidos são então enviados ao Conselho Nacional de Imigração (CNIg), o qual decide autorizar a concessão de um visto de trabalho de dois anos por motivos humanitários.

Apenas no ano passado, o governo do Estado aplicou cerca de R$ 1,25 milhão com gastos de moradia, alimentação e ajuda aos haitianos. Eles recebem três refeições diárias. Algumas pousadas foram alugadas para abrigar parte dos imigrantes, mas quase todas estão superlotadas.

O haitiano Tienne, por exemplo, divide um quarto para duas pessoas com oito. Ele conta que não há lugar para todos e que vários perambulam pela cidade. “Algumas pessoas que vieram com mais dinheiro conseguiram alugar casa”, explica.

De acordo com o secretário da Sejudh, o governo federal deveria começar a tomar alguma atitude imediata. “A solução é que o governo instale tendas e barracas do Exército porque o número de pessoas que vagam pela cidade é grande. Há também muitas pessoas debilitadas e crianças”.

http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=192477,OTE&IdCanal=8. Enviada por José Carlos.

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