Manifestantes são marcados a caneta no Piauí

Leonardo Sakamoto

Atenção para notícia veiculada pelo Portal AZ, no Piauí:

Policiais militares sem farda ou qualquer identificação estão infiltrados nas manifestações contra o aumento da passagem de ônibus de Teresina. A informação foi confirmada pelo coronel Adonias Amorim, comandante da tropa da Polícia Militar que acompanha o terceiro dia de protestos.

De acordo com o oficial da PM, os homens à paisana são do Serviço de Inteligência da Polícia Militar. Eles estão municiados com uma caneta especial, capaz de deixar marcas invisíveis a olho nu. O equipamento está sendo usado para identificar os chamados “líderes” do movimento e pessoas envolvidas com incidentes durante os atos. As marcas da caneta, explicou o coronel Adonias, só podem ser vistas com o uso de um óculos especial

No Brasil, temos vergonha de protestar. Nossa cordialidade não nos permite. É coisa de baderneiro, bagunceiro e não de “gente de bem” (antes, até segurava o riso quando alguém usava essa expressão na minha frente. Hoje, que se dane, a vida é curta!). Ao mesmo tempo, quem rompe a barreira do conformismo e protesta é criminalizado ou reduzido a um mero causador de congestionamentos. Para esses insurgentes, que não entendem que a cidade é um organismo autônomo que lhes presta um favor por deixarem nela viver, só a porrada resolve.

Recordar é viver: protestos contra o aumento na tarifa de ônibus na capital paulista foram duramente reprimidos pela polícia há um ano. Balas de borracha nos estudantes (que é para aprenderem, desde cedo, quem manda e quem obedece), gás de pimenta (lembrando que o Estado usou o mesmo expediente, em 2010, em um protesto de moradores do Jardim Pantanal que haviam perdido tudo o que tinham, tragado pela merda nas enchentes) e outros apetrechos usados pela nossa democracia para fazer valer a cidadania. Entre as centenas de manifestantes, houve feridos, presos, enfim, o caos. Isso na maior cidade do país.

No Brasil, há governos que não entenderam que o direito de protestar é parte da democracia. E que o povo não serve apenas para votar a cada quatro anos, pagar impostos e fornecer mão-de-obra barata. Mas, como se vê pela notícia acima, o Estado nos lembra diariamente que não somos cidadãos mas gado que pode, eventualmente, ser marcado.

Creio que alguém já deve ter tido essa idéia, mas além de processar o poder público por conta desse absurdo, sugiro que os manifestantes em Teresina comprem o mesmo tipo de caneta e escrevam mensagens para a polícia. Do tipo: “Senhor(a) Policial, eu te amo”, “Vendo Fusca 76. Único dono” ou “Justin Bieber tem cabelo de tigela”.

Ou melhor ainda, todo mundo deveria se marcar com a tal caneta. Assim, de duas uma: levam todos os manifestantes embora ou deixam essa ideia genial de lado.

http://blogdosakamoto.uol.com.br/

 

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.