Seis imagens dos protestos de rua em 2011

Leonardo Sakamoto

Limpando a memória do celular neste fim de ano, deparei-me com fotos de manifestações que ocorreram pelas ruas de São Paulo. Posto aqui algumas que estavam no aparelhinho, deixando de lado as da câmera fotográfica. OK, poderia dar várias justificativas, de políticas a tecnológicas para isso, como muitas vezes fazemos nós, jornalistas, quando estamos com preguiça – mas a verdade é essa mesmo. Não se esqueçam que fim de ano é hora de retrospectivas, ou seja, desenterrar e analisar o que foi produzido.

Mesmo debaixo de chuva, a passeata pelo Dia Internacional da Mulher ocupou as ruas do Centro (12/03)

A PM usou de desnecessária violência (para variar) a fim de dispersar uma Marcha da Maconha (21/05). As cenas de selvageria levaram até o governo a repudiar o ocorrido

Flores foram distribuídas aos policiais na Marcha da Liberdade (28/05)

A polícia militar acabou se “acostumando” com as marchas que discutem a descriminalização da maconha após o STF tê-las declarado legais (18/06)

Protesto contra Belo Monte “queima” um boneco representando Dilma na Paulista (20/08)

Manifestação contra a Usina de Belo Monte, no Pará, reuniu entre 500 e 700 pessoas na avenida Paulista, em São Paulo (17/12)

Só o tempo vai dizer, mas creio que 2011 marcou o início da reconquista do espaço público. Como um amigo jornalista bem lembrou, até a revista Time elegeu os manifestantes como a sua personalidade do ano. Espaços públicos ficaram cheios – da Primavera Árabe aos protestos contra medidas de austeridade na Europa; de Occupy Wall Street à multidão russa indignada com as fraudes eleitorais; dos indignados da Espanha aos estudantes chilenos.

Some-se a isso outras tantas ações aqui em Pindorama: protestos contra estações de metrô que têm sua localização alterada em benefícios de um grupo social privilegiado; ocupações de estudantes, de terras improdutivas pelos sem-terra ou de prédios abandonados por sem-teto; manifestações pelo direito ao aborto, pelo uso de substâncias consideradas como ilícitas e outras liberdades; contra a construção de hidrelétricas. Todas têm um objetivo muito maior do que obter concessões de curto prazo.

Como já discuti aqui anteriormente, elas não servem apenas para garantir transporte público, tapar as goteiras das salas de aula, desapropriar uma fazenda, destinar um prédio aos sem-teto ou ainda conquistar direitos individuai. Os problemas enfrentados pelos movimentos envolvidos nesses atos políticos não são pontuais, mas sim decorrência de um modelo de desenvolvimento que enquanto explora o trabalho, concentra a renda e favorece classes de abastados, deprecia a coisa pública (quando ela não se encaixa em seus interesses) ou a privatiza (quando ela se encaixa).

Ou seja, as ações são uma disputa de poder feita simultaneamente em âmbito local e global que, no horizonte histórico, poderá resultar na manutenção da pilhagem econômica, social e cultural da grande maioria da sociedade ou levar à implantação de um novo modelo – mais humano, livre e democrático.

Ver que o pessoal jovem está indo para a rua traz uma lufada de esperança para a busca de nossas respostas. Talvez essa nova geração, auxiliada pela tecnologia, faça a diferença na forma que os que vieram antes ainda não conseguiram fazer. Mas alegria mesmo vai ser quando a periferia das grandes cidades e do país, em peso, ganhar o espaço público para protestar e fazer política. Espero ainda estar vivo quando isso acontecer.

http://blogdosakamoto.uol.com.br/

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.