MG – Comunidade rejeita mineração

O Norte de Minas pode se tornar a nova fronteira mineral do Estado. Essa aposta, diante de investimentos que estão sendo planejados para a exploração de jazidas de minério de ferro em municípios do Alto Rio Pardo, está gerando polêmica entre moradores e autoridades. O minério poderá levar ao Norte o mesmo desenvolvimento ocorrido na região Central e no Quadrilátero Ferrífero? Quais serão os impactos sociais, econômicos e ambientais na região? Para debater esses assuntos, a Câmara Municipal de Taiobeiras (Norte) ficou lotada durante a audiência pública promovida pela Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nesta sexta-feira (2/12/11). A reunião contou com a presença de deputados e comunidade interessada.

Segundo o deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento da audiência com o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), é comum serem feitos anúncios de ‘redenções’ para o Norte de Minas. “O eucalipto é um exemplo. Prometeram que geraria renda, mas nada aconteceu. Agora, vem o ciclo da mineração. Falam de riquezas, empregos, mas pouco se pergunta sobre os impactos e a opinião das pessoas que vivem no local”, ressaltou.

O deputado Luiz Henrique (PSDB) acredita que está se abrindo uma nova perspectiva para o Norte do Estado. A previsão é de que sete empresas, que já obtiveram licenças prévias, comecem a exploração em 2014. Para o deputado, no entanto, é preciso observar o que o setor pode causar e buscar um equilíbrio: “temos que desenvolver com sustentabilidade”. Em sua opinião, é necessário, ainda, nacionalizar a discussão. “Precisamos criar uma agência brasileira de regulação do setor”, defendeu.

Biólogo alerta sobre grandes barragens de rejeitos

O biólogo e perito ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio Fonseca do Carmo, falou sobre os possíveis impactos ambientais decorrentes da vinda dos grandes empreendimentos ao Norte. Ao analisar as condições de exploração já apresentadas por empresas, ele alertou sobre as grandes barragens de rejeitos que vêm sendo planejadas e a potencial destruição ambiental no local.

De acordo com o biólogo, a geração de poluição, no ar ou na água, é um problema grave para municípios exploradores e vizinhos. Segundo ele, por exemplo, “poeiras percorrem quilômetros de distância”, podendo causar doenças cardiovasculares e respiratórias na população. Para o representante do Movimento dos Atingidos por Barragens, Moisés Borges de Oliveira, a preocupação maior é com a água. “Haverá uma privatização do recurso. Serão as empresas que vão autorizar o uso da água da região, já que vão ser elas as responsáveis pelas construções de barragens”, criticou.

Agricultores consideram-se ameaçados pela vinda da mineração

O funcionário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Pardo de Minas, Moisés Dias de Oliveira, afirmou que o território que querem explorar já é ocupado por agricultores familiares e comunidades quilombolas. “Não vamos aceitar qualquer projeto que não considere o povo e a vida local. Quem disse que só temos a opção de gerar riquezas a partir de exploração de minério?”, questionou. Para ele, “a mineração vem acirrar e agravar a disputa entre ricos e pobres da região”.

O assessor sindical da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Arimar Gomes dos Santos, concorda. Ele acredita que os agricultores estão sendo ameaçados com a vinda da mineração. “Para onde vão nossos trabalhadores que serão despejados?”, questionou.

O prefeito de Rio Pardo de Minas, Antônio Pinheiro da Cruz, fez coro à situação, ao dizer que é preciso atentar para o direito da terra das populações próximas aos locais de mineração. Segundo ele, é comum empresas alegarem direito de posse sem terem nenhum documento. “Que haja transparência em todo o processo. Se o Estado não tomar providências, todas as terras acabarão sendo invadidas”, alertou.

Política e mineração também em debate

O padre José Ivan Alkimin, de Montes Claros, acredita que, em princípio, pode até ser bem vista a chegada das empresas, mas “depois ficarão, para gerações futuras, as mazelas consolidadas e sem resolução”. Para ele, o povo não pode ficar apático diante de situações como essa. O representante da Comissão Pastoral da Terra, Alexandre Gonçalves, questionou a quem interessa essa mineração: “o que as empresas querem é o lucro.”

Alexandre Gonçalves chamou a atenção das pessoas presentes ao financiamento que essas companhias de exploração de minério costumam promover em campanhas de políticos durante as eleições. “A partir daí, é comum que esses governantes passem a representar essas empresas, e não mais o povo”, opinou. Para ele, essa é a razão pela qual elas conseguem as licenças para atuarem. Alexandre afirmou, também, que, no caso do Norte de Minas, “não existem sequer estudos do Governo Estadual sobre os impactos que os empreendimentos poderão causar”.

Deputados avaliam audiência – Para o deputado Luiz Henrique, a audiência foi um avanço, pois foi a primeira vez que uma atividade mineratória passou por discussão popular antes de ser instalada. Segundo o deputado Rogério Correia, o objetivo da audiência foi escutar os movimentos sociais sobre como enxergam a vinda dos empreendimentos para a região. “Sempre ouvimos a história dos dominantes. É preciso, no entanto, escutar quem vive na terra, os oprimidos”, salientou.

Compuseram, ainda, a mesa de debates o presidente da Associação dos Amigos de Porteirinha, Halley Mendes Cunha; o vereador Danilo Mendes Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Taiobeiras; o prefeito de Taiobeiras, Denerval Germano da Cruz; e o representante do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, Eliseu José de Oliveira.

Enviada por Ricardo Álvares.

http://www.almg.gov.br/acompanhe/noticias/arquivos/2011/12/02_comissao_debate_mineracao_em_taiobeiras.html

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.