Rio recém-descoberto é ‘reserva’ caso bacia amazônica se esgote, diz pesquisadora

A afirmação é da professora da Ufam, Elizabeth Tavares Pimentel.  Ela refere-se ao rio subterrâneo descoberto durante pesquisas desenvolvidas durante seu doutorado, no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro

Elaíze Farias

O recém-descoberto rio subterrâneo Hamza, localizado a 4 mil metros de profundidade debaixo do rio Amazonas e medindo 6 mil metros de extensão, tem água potável e pode ser consumida caso, um dia, a água doce da bacia amazônica seque.

“Eu acho que o rio Amazonas nunca vai secar, mas se isso acontecer algum dia, as populações da Amazônia podem contar com essa reserva”, relata a pesquisadora amazonense Elizabeth Tavares Pimentel, referindo-se ao rio subterrâneo descoberto durante pesquisas desenvolvidas durante seu doutorado, no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro.

Com formação em Geofísica, a professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Elizabeth Tavares Pimentel foi responsável por uma das descobertas mais relevantes para a ciência nos últimos tempos.  A repercussão da divulgação do trabalho, após ser apresentado durante o 12º Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica, no Rio de Janeiro, e divulgado nesta quinta-feira (25) pelo Observatório Nacional, surpreendeu a pesquisadora.

“Vários jornais do Brasil e do exterior estão me ligando.  Ainda não tive tempo para fazer muita coisa hoje (ontem)”, disse Elizabeth ao portal acrítica.com, em entrevista por telefone, do Rio de Janeiro.

Contribuição

Conforme Elizabeth, a curto e médio prazo, a contribuição científica da descoberta é que os estudos sobre o ciclo hídrico poderão levar em consideração o fluxo do rio Hamza – o nome é uma homenagem ao orientador de Elizabeth, Valyia Hamza.

“Quando se fala nos ciclos se recorre à chuva, aos lençóis freáticos, aos aquíferos.  Todos eles deságuam no oceano Atlântico.  Os estudos deste ciclo não inclue, até então, o rio subterrâneo”, explicou a pesquisadora.

Uma hipótese sugerida tanto por Elizabeth quanto por Valyia Hamza é que o rio subterrâneo também seja responsável pela baixa salinidade encontrada no Oceano Atlântico.

Vazão

De acordo com as pesquisas desenvolvidas pelos dois cientistas, o modelo adotado para a análises identificou que o rio Hazam tem 3, 09 mil metros cúbicos por segundo.  Essa vazão é superior ao rio São Francisco, que possui 2, 8 mil metros cúbicos.  O Amazonas possui 133 mil metros cúbicos por segundo.

“Esse valor é pequena em relação à vazão do Rio Amazonas, mas é indicativo de um sistema hidráulico subterrâneo, igantesco.  Basta notar que a vazão subterrânea na região Amazônica é superior à vazão média do Rio São Francisco”, disse Elizabeth.

A profundidade de 4 mil metros do rio Hamza também impressiona.  Para se ter uma ideia, o rio Amazonas tem uma profundidade que varia de um metro (nas áreas mais rasas) a 50 e 100 metros.  Outra característica do rio Hamza é a sua largura.  Enquanto o rio Amazonas tem de 1 a 100 quilômetros de largura, o Hamza possui de 200 a 400 metros de quilômetros.

Campo

Bolsista da Fundação Estadual de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Elizabeth Pimentel Tavares, que á natural do município de Parintins, tem previsão de concluir sua pesquisa em fevereiro de 2012.  Os estudos desenvolvidos por Elizabeth Tavares Pimentel foram baseados em dados nos resultados das perfurações realizadas pela Petrobrás nos anos 70 e 80 quando a empresa realizava pesquisas para localizar petróleo.

“A investigação começou com bases em temperaturas realizadas em águas de poços profundos.  Estes dados da Petrobrás estavam arquivados.  A gente observou que havia muita movimentação de fluidos e resolveu aplicar um modelo analisar”, explica.

Conforme a pesquisadora, a análise da vazão do fluxo mostrou que seria de bacias sedimentares na mesma extensão do rio Amazonas.  “A gente nem imaginava que iria resultar nisso.  Fomos analisando os dados e resultados foram estes”, disse.

Por enquanto, as informações obtidas a partir das perfurações equivalem a uma extensão iniciada na bacia do Estado do Acre, passando pelo rio Solimões e Amazonas, no Estado do Amazonas, rio Marajó, passando pelas chamadas barreirinhas e vai até a foz do rio que deságua no Oceano Atlântico.  Pesquisas posteriores podem identificar se este rio subterrâneo também nasce na Cordilheira dos Andes, como é o caso do rio Amazonas.

O trabalho de campo de Elizabeth começa no próximo mês, quando ela fará pesquisa nas temperaturas em poços em todos os Estados da bacia Amazônica.  Os dois primeiros serão Roraima em Amazonas.  Elizabeth disse que pesquisa para alcançar o rio subterrâneo exige demanda muito elevada de recursos financeiros e, no momento, não será possível de ser realizada.

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=392848

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