Indígenas realizam em Manaus primeira reunião prévia de conferência da ONU

Rio+20 vai comemorar os 20 anos da Rio 92, primeiro evento a debater sobre clima, mudanças climáticas e diversidade biológica, e propor novos temas

Marcos Terena (à dir.) acompanhado do antropólogo Ademir Ramos, em visita ao porto de Manaus
Marcos Terena (à dir.) acompanhado do antropólogo Ademir Ramos, em visita ao porto de Manaus

Elaíze Farias

Lideranças indígenas brasileiras realizaram em Manaus o primeiro encontro para discutir as metas que serão levadas para a Rio+20, conferência em desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), que ocorrerá em 2012, no Rio de Janeiro. O evento marcará os 20 anos da Rio 92, considerado um marco nos debates sobre socioambiental.

Em entrevista exclusiva dada ao portal acrítica.com, o membro da cátedra indígena da ONU e coordenador indígena para a Rio+20, Marcos Terena, disse que a discussão em Manaus foi a primeira do gênero entre os povos indígenas. Leia a seguir a entrevista:

Pergunta – Qual a pauta da discussão da reunião de Manaus?

Resposta – São temas aparentemente novos para o Brasil e para nossas aldeias mas que vem sendo debatidas no mundo todo nesses últimos 20 anos, como a Convenção da Diversidade Biológica, onde se discute a proteção dos conhecimentos tradicionais, o Protocolo da Nagóya onde temos o tema indígena e a questão das mudanças climáticas e até desertificação. Há um tema mais próximo da realidade dos africanos, e tudo dentro do tema central da ONU que é a Economia Verde, Sustentabilidade e Desenvolvimento.

O Encontro pretende apontar as metas indígenas que serão levadas para a Rio+20, onde os indigenas brasileiros irão construir um parque temático e tradicional indigena chamado KARI-OCA 2.

Pergunta – Será elaborado um documento pra ser apresentado à ONU?

Resposta – A gente no Brasil tem costume de achar que todos os encontros indígenas tem que escrever uma carta ou uma declaração, mas dentro do espírito da modernidade e da KARI-OCA 2, a ideia não é fazer uma moção ou declaração mas sim apontar uma agenda local, regional e internacional que vão se somando até o ano que vem, e ao mesmo tempo, dentro de uma pauta comum de ações já que alguns temas são de interesses comuns e outros, devido a diferenças de bioma, são específicos de cada região. O Brasil, por exemplo, possui seis biomas e em cada um deles tem populações indígenas como o Pantanal, o semi-árido, os pampas, Pantanal, Matal Atlantica e o Cerrado. Por isso não será necessário mandar um documento a ONU, inclusive porque ela está participando através da instância indígena, o Fórum Permanente para as Questões Indíjgenas com sede em Nova Iorque.

Pergunta – Quem participa da reunião e o que já pode ser apontado de propositivo.

Resposta – Além dos índios brasileiros da Amazônia, Pantanal, Cerrado, Nordeste e Mata Atlântica, participam organizações e representações indígenas da Mulher e da Juventude das Américas, Ásia, África e Oceania. Uma das grandes preocupações além das mudanças climáticas é o tema chamado “crédito de carbono”, aquela ideia de que as terras indígenas, hoje no Brasil giram em torno de 15%, podem receber pagamento pela emissão de carbono. Mais ou menos a ideia de fazer o índio vender o ar de sua terra. A pergunta indígena é: quem é o dono do ar? Mas o mais grave nesse caso, é o direito de quem paga, continuar poluindo…

Pergunta – Como está a mobilização e a participação dos povos indígenas na agenda do Rio+20?

Resposta – Como articulador indígena da participação mundial na RIO+20, conseguimos levar quatro entidades indígenas como parte da Comissão Governamental para a RIO+20 e ao mesmo tempo, articular e somar com a Comissão Brasileira da Sociedade Civil. Queremos levar ao Rio de Janeiro em torno de mil indígenas do mundo todo, e uma grande parte aqui do Brasil que possui 240 povos vivos.

Pergunta – A partir das reuniões como esta que acontece em Manaus serão tirados grupos de trabalho?

Resposta – Estamos trabalhando com a ideia de mostrar aos nossos chefes e lideres, que a Rio+20 não é um encontro indígena internacional, mas um evento onde os empresários, a juventude, as mulheres, os negros, a CUT e outros agentes da sociedade civil vão participar já que o entendimento é que o meio ambiente é um bem comum de todos. Além disso, não podemos esquecer que a agenda oficial é dos governos. Nós queremos ajudar o Brasil a ser o protagonista de um novo modelo de vida mundial a partir do meio ambiente. E isso requer compromisso politico, conhecimento técnico, ação política e conhecimentos tradicionais. Só o Indio tem esses valores.

Pergunta – Por que é importante a participação dos indígenas na organização do Rio+20?

Resposta – Porque a voz indígena é a voz do coração da terra. Lá nas aldeias nossos líderes estão se preparando espiritualmente para que o mundo ouça a nossa voz como filhos da terra.

Pergunta – Em 92, os povos indígenas foram contemplados de que forma? Teve pouca participação?

Resposta – Em 1992 era uma situação muito diferente, mas foi a oportunidade que nós tivemos para mostrar ao mundo que o Brasil é um País potencia em termos de Meio ambiente, águas, recursos minerais como urânio, ouro, petróleo e ao mesmo tempo a biodiversidade tão rica para o bem viver da modernidade como os medicamentos e a alimentação.

Naquele tempo escrevemos a Carta da Terra com 109 recomendações tão atuais como hoje ainda. No cenário internacional o índio brasileiro é forte mas no Brasil vamos mostrar que nosso desejo é gerar um país rico em infraestrutura e ao mesmo tempo, respeitando os códigos da natureza e isso a gente so pode fazer com uma aliança com a academia, com o mundo cientifico e com o governo federal, estadual e municipal.

http://acritica.uol.com.br/amazonia/Indigenas-Manaus-conferencia-Nacoes-Unidas_0_542346276.html

 

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