“Dez ficaram feridas. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, o motorista de uma van perdeu controle e capotou depois que um pneu estourou.
Nove pessoas morreram e dez ficaram feridas em um acidente perto de Janaúba, no norte de Minas Gerais. Foi na MG-122. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, o motorista de uma van perdeu controle e capotou depois que um pneu estourou. O carro levava moradores de uma comunidade Quilombola de Catuti para uma festa folclórica. Uma criança de 2 anos escapou sem ferimentos. A van tinha capacidade para 16 pessoas e estava com 20 passageiros”. (Globo.)
A respeito do acidente e de suas causas, transcrevo a reação de Sandra Maria da Silva Andrade, Presidente da N’GOLO (Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais), na lista do Cedefes:
“Isto não foi um acidente e sim um assassinato, pois muitos estão usando os quilombolas para ganhar dinheiro e não se importam com a segurança de nosso povo. Continuam nos tratando como animais, não nos dando nem transporte adequado para fazermos estas apresentações culturais para eles ganharem. E nosso povo sendo usado para prestar contas de megaprojetos que se fazem em nosso nome e não nos dando nem uma condição de dizermos o que realmente precisamos. Quem vai ser responsabilizado agora, apesar de não termos nosso povo de volta e muitos aleijados? Peço que o governo e estatais que financiam estes megaprojetos façam uma fiscalização e respeitem o nosso povo, que apesar da abolição continua escravo”.
Não podemos permitir que a cultura e as tradições quilombolas sejam folclorizadas e mercantilizadas, que é o que Sandra está denunciando. Elas devem ser vistas, encaradas e tratadas com o devido respeito, e não transformadas em “mercadorias exóticas”, a serem expostas em praça pública com o mínimo de gastos.
Em novembro, três quilombolas de Conceição das Crioulas morreram na hora, em consequência de um acidente semelhante, várias ficaram feridas, e uma delas, Valdeci, enfrentou longo tempo de internação e de campanha para que recebesse o tratamento adequado.
Na madrugada de ontem, também no Norte de Minas, em Brejo do Crioulos, Edmilson de Lima Dutra, o Coquinho, foi esfaqueado por um capanga, na garganta e nas costas, quando comemorava as Festas de Agosto perto da Igreja da conunidade de Araruba. Levado em estado preocupante para o Hospital Brasília de Minas, foi operado e, felizmente, está fora de perigo.
O nome e sobrenome do jagunço são conhecidos: Roberto Carlos Pereira. Os do fazendeiro para quem ele trabalha há mais de 12 anos, também: Raul Ardido Lerário, “dono de um dos maiores latifúndios dentro do território”, segundo a CPT local. O Boletim de Ocorrência foi registrado, mas não há notícias do criminoso.
Ainda segundo a CPT no Norte de Minas, “Roberto andava armado e já tinha feito ameaças de morte aos moradores, inclusive a Zé do Mário. A historia dos empregados de Raul Ardido Lerário já é marcada pelo assassinato de Lídio Ferreira Rocha, há pouco mais de um ano, quilombola irmão de Francisco Cordeiro Barbosa – Ticão, vice presidente da Federação quilombola e liderança local. O assassino, João Borges, está com processo na justiça”.
Por que misturo esses dois assuntos? Não apenas por terem acontecido ambos no Norte de Minas. Muito mais grave que isso é o que representam em termos de descaso, de falta de políticas públicas que garantam as vidas das comunidades de diferentes formas: não só a titulação que não chega, mas o direito à terra descontaminada, ao trabalho digno, à educação, à felicidade, à saúde, à garantia física e emocional de não terem de se sentir ameaçados, quer por jagunços, quer por desrespeito até no meio de transporte a elas oferecido.
No comentário de Maria Tereza Queiroz (que não conheço e a quem peço compreensão para o uso de suas palavras) numa troca de mensagens a respeito, “‘Quilombo, quilombo, não vive cansado. Melhor morrer lutando do que ser escravizado!’ Essas são palavras de ordem dos companheiros e companheiras quilombolas. Tantas vezes já vi aquele povo gritar isso. E é nessas horas que percebemos que de fato, não são apenas palavras. É um sinal de compromisso com a luta”.
Que seja um com promisso de tod@s nós. E que as cobranças contra todo esse estado de coisas se mantenham vivas na nossa indignação.
Tania Pacheco.
Tânia e demais companheiros,
Realmente revoltante a falta de políticas públicas eficazes para as comunidades quilombolas no nosso país. O “acidente” anunciado (uma vez que a VAN estava com mais passageiros do que devia) mostra que estamos muito longe de trazermos a verdadeira CIDADANIA para estes nossos irmãos que estão à margem do processo civilizatório e de acesso ao capital, bem como longe dos holofotes da grande mídia, e do interesse humanitário dos nosso governantes!