Com o avanço da crise de fome na Somália, o Quênia está entre o receio e a solidariedade. O motivo é o fluxo de refugiados do país vizinho, que não para de aumentar. A reportagem é de Carolina Montenegro e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 11-08-2011.
Até o começo de agosto, a ONU registrava a entrada de 1.500 refugiados por dia, no campo de Dadaab, na fronteira norte do país. Outros milhares seguem para a Etiópia, fugindo da fome e da seca.
“Há mais de duas décadas o Quênia recebe somalis. A maioria se estabelece e fica no país como ilegal, porque a situação na Somália continua ruim. Eles vêm para ficar”, diz à Folha Jane Some, analista da ONU em Nairóbi.
Cerca de 116 mil refugiados somalis chegaram a Dadaab este ano, 76 mil apenas nos últimos dois meses. O Quênia recebe, mas não integra ou dá cidadania aos somalis.
Estima-se que 1 milhão de somalis expatriados vivam em território queniano, a maior parte refugiados. Em Nairóbi quase 60 mil vivem em Eastleigh (subúrbio chamado de “Little Mogadiscio”), onde são alvo de discriminação e abuso policial.
Ontem, a ONU alertou para o aumento de refugiados nas próximas semanas. O presidente queniano, Mwai Kibaki, disse que os somalis “precisavam ser assistidos dentro de seu próprio país” e que vai financiar um centro de alimentos em Mogadício.
Por trás da política de “morde e assopra” está a preocupação com a segurança e a política interna. Só dentro do Quênia são 3,5 milhões de famintos. “O governo também teme que o Al Shabab amplie sua atuação”, afirma Some. Em 2010, a milícia somali explodiu uma bomba em Campala, Uganda – país que mantém tropas na Somália.
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=46238