Por Maria Emília
Quatro funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) e um sertanista que trabalha com eles retornaram nesta sexta-feira (5 de agosto) à base invadida por traficantes peruanos durante o mês de julho. Os funcionários se queixam que a Polícia Federal não permaneceu na base para garantir a proteção da fronteira e dizem que pretendem ficar por lá devido “ao compromisso que têm com os índios”. A PF, por sua vez, diz que está analisando a situação e que provavelmente fará um sobrevoo na área esta manhã.
A invasão à base da Funai aconteceu no dia 23 de julho. Segundo relatório da Funai a que o UOL Notícias teve acesso, eram cerca de 40 pessoas vindas do Peru. A Fundação, alertada por índios Ashaninka, que vivem em uma aldeia a três horas de barco da base pediu ajuda ao Ministério da Justiça, à PF (Polícia Federal) e ao Exército. A base, que fica em 32 quilômetros da fronteira do Peru e a cinco dias de barco do município de Feijó (AC) foi saqueada após evacuação dos funcionários da Funai.
Uma semana depois, no dia 30 de julho, teve início uma operação do Comando de Operações Táticas (COT) e da CAOP (Coordenadoria de Aviação Operacional) da Polícia Federal na área, com o apoio logístico do Estado do Acre e do Exército. A ação resultou na prisão de uma pessoa, o traficante português Joaquim Antônio Custódio Fadista.
O português foi detido na última quarta-feira (3 de agosto). Ele atua no Peru e já havia sido preso na mesma base da Funai em março deste ano e encaminhado à PF. Após ser interrogado, foi extraditado para o Peru. No entanto, retornou à região em julho. “Quando o português foi preso nesta semana ele debochou da cara de todo mundo, dizendo que logo iria sair e que ainda pagaríamos a passagem dele de volta”, disse Artur Meirelles, atual Coordenador da Frente de Proteção Envira.
A dificuldade para chegar ao local dificultou a ação das autoridades. “Por ser muito distante, a PF não pôde agir prontamente e necessitou do helicóptero do Exército”, afirmou Carlos Travassos, Coordenador Geral de Índios Isolados e Recente Contato (CGIIRC) da Funai.
A Base de Vigilância Xinane faz parte da Frente de Proteção Etnoambiental Envira. A equipe que trabalha no local é responsável por garantir a proteção territorial dos grupos de índios isolados que vivem nesta região do Acre, que faz fronteira com o Peru.
No local
Na quinta-feira (4 de agosto), a PF orientou a retirada de todas as pessoas da base. Apesar disso, o sertanista José Carlos Meirelles, ex-Funai e que trabalha no projeto há 23 anos, e mais quatro pessoas da equipe da Funai decidiram permanecer no local.
“Já que ninguém deste Estado brasileiro se dispõe a ficar aqui, tomamos a decisão de vir para cá”, disse Meirelles ao UOL Notícias, por e-mail. Meirelles afirma que os invasores ainda estão na região, pois foram encontrados rastros na mata. “Achamos vestígios de, no mínimo, seis pessoas. Tem saco de dormir, plástico, corda. Os peruanos ficaram aqui no bananal em frente à base no último dia da operação, apenas olhando a equipe da polícia ser retirada.”
“Ficaremos aqui até que alguém ache que uma invasão do território brasileiro por um grupo paramilitar peruano é algo que mereça atenção. Somos irresponsáveis, talvez. Mas antes de tudo existe um compromisso maior com os índios”, completou.
“Está tudo bem porque o pior não aconteceu, mas os caras estão nos espiando, vimos os rastros deles aqui no entorno da base agora, pela manhã estiveram aqui”, disse, neste sábado, Carlos Travassos, coordenador-geral de Índios Isolados da Funai. “Está tudo bem até o pior acontecer. Os peruanos não vão embora, isso é certo. Estamos cercados, não teve troca de tiros, ainda.”
Polícia federal
José Carlos Calazans, superintendente da Polícia Federal no Acre, disse na manhã deste sábado ao UOL Notícias que está em contato com os funcionários da Funai na base. Ele diz que, nesta manhã, foi informado de que estava “tudo sob controle”.
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/08/06/grupo-armado-do-peru-invade-base-da-funai-no-acre.jhtm
Amigos, há 15 dias que acompanho essa história, pois meu filho é um dos funcionários que está lá. Eles aguardaram ansiosamente a intervenção do Exército, que não veio! Pelas características do local, a PF precisaria do apoio do exército de modo a poder prender os narcotraficantes. Sem uma operação militar em regra, a região continua vulnerável à ação destes narcotraficantes e os índios, suas eventuais presas. É indignante ver tantos militares falando de segurança nacional, gastando enormes orçamentos e quando se trata de efetivamente garantir a segurança nacional, simplesmente sumirem do mapa!